sábado, 17 de maio de 2008

LA BRUXELLES DE RIMBAUD ET LES RESTAUX D'AUJOURD'HUI




"Jadis, si je me souviens bien, ma vie était un festin où s'ouvraient tous les coeurs, où tous les vins coulaient.
Un soir, j'ai assis la Beauté sur mes genoux. - Et je l'ai trouvée amère. - Et je l'ai injuriée.
Je me suis armé contre la justice.
Je me suis enfui. Ô sorcières, ô misère, ô haine, c'est à vous que mon trésor a été confié!" *

O que é que a conturbada presença de Rimbaud em Bruxelas, na década de 1870, tem a ver com os restaurantes de hoje da cidade? Nada, absolutamente nada, é a resposta. Resolvi, entretanto, escrever esta crônica/postagem sobre ambos os temas, talvez para economizar letras, talvez por falta de idéias.

Para começar, ressalto que o título desta postagem, em francês, utiliza a abreviatura coloquial de “restaurants” - que também se pode grafar “restos” - e acrescento que a referência aos "restaux" será apenas aos seus nomes e não à qualidade da comida ou à relação qualidade/preço. Explicação dada, passemos ao que interessa.


Estou, mais uma vez, em Bruxelas e aproveitei a noite de ontem, sexta-feira, para jantar com um grupo de amigos dos velhos e dos novos tempos. Durante o jantar, alguém comentou a frequente ocorrência de nomes fora do comum dados aos restaurantes da cidade. Estávamos no “Bonsoir Clara” e resolvemos disputar o jogo de quem encontraria o nome mais bizarro, pelo menos para os padrões tradicionais. O jantar foi muito divertido e a brincadeira durou até o cafezinho Tal como muitas outras coisas nesta cidade, a escolha dos nomes dos restaurantes tende ao insólito - alguns leitores mais atentos devem lembrar da postagem, publicada em 1º de dezembro de 2007, sobre as ruas insólitas de Bruxelas.

Eis os nomes vencedores:
"Ma folle de sœur",
"Bleu de Toi",
"De Ultieme Hallucinatie",
"Eatcetera",
"Bonsoir Clara"
"Vert de Gris",
"L'O de Gamme",
"Le Hasard des Choses",
"La Quincaillerie",
"Rouges Tomates",
"Au Boeuf Gross Sel".

O "De Ultieme Hallucinatie" ocupa uma maravilhosa construção Art Nouveau, mas os preços são altos para o meu padrão. Bruxelas tem, sem nenhuma dúvida, uma vasta gama de bons restaurantes e aqueles de cujo nome lembramos são, além de excelentes, acolhedores e com um ambiente convidativo a um agradável serão. O vencedor entre os que têm nomes exóticos, "Ma Folle de Soeur" (literalmente, "A Louca da minha Irmã") é o meu favorito tanto pela comida, quanto pelo preço, mas também gosto muito do antigo "La Quincaillerie", onde sempre volto e recordo a primeira vez em que lá estive, no início da década de 1990, com um grande grupo, incluindo o meu amigo pernambucano - médico, pintor e muito mais - Lauro Marinho.
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Hoje, sábado, 17 de maio de 2008, resolvi sair à procura dos locais mais marcantes da presença de Arthur Rimbaud na cidade. Comecei pelo Ancien Hôtel Liègeois (atual Saint Germain), de lá passei pela Casa “Victor Hugo”, no número 4 da Place des Barricades e, em alguns minutos, estava no Musée de la Brasserie, antiga Maison des Brasseurs, no número 10 da Grand Place. Que emoção, ao imaginar que ali, em 1873, Verlaine e Rimbaud tomaram grandes pileques!
Dei um salto na história dos dois poetas e parei em frente ao atual Hotel Amigo, antiga prisão de mesmo nome, na qual Verlaine cumpriu pena após ter baleado o jovem e irrequieto Arthur. Em seguida, respirei fundo e meditei ao lado do prédio onde funcionou o hotel À La Ville de Courtrai, cenário do trágico ato acima citado. Fui, por fim, à Passage 44, no mesmo local onde existia o Hospital Saint-Jean, para onde o poeta foi levado por Verlaine e a mãe, para retirarem a bala e fazer curativos.

"Moi! moi qui me suis dit mage ou ange, dispensé de toute morale, je suis rendu au sol, avec un devoir à chercher, et la réalité rugueuse à étreindre! Paysan!
Suis-je trompé? la charité serait-elle sœur de la mort, pour moi?
Enfin, je demanderai pardon pour m'être nourri de mensonge. Et allons.
Mais pas une main amie! et où puiser le secours?"
*


* Excertos de "Une Saison en Enfer" de Arthur Rimbaud.

sábado, 3 de maio de 2008

"CORRIENTES TRES CUATRO OCHO"

É início do Outono no hemisfério sul e as já habituais reuniões de trabalho me trouxeram de volta a Buenos Aires, que está mais fria do que o normal para esta época do ano, mas com o sol brilhando radioso. O bom clima faz com que a cidade apresente-se mais encantadora do que sempre é. A crise econômica que permanece na Argentina não tirou a beleza de Buenos Aires, nem espantou os turistas. As ruas estão repletas desde de manhã cedo até alta madrugada, seja no centro - na conhecida Calle Florida -, seja em Palermo - bairro boêmio-, seja na Boca, seja nos restaurantes de Puerto Madero. Enfim, em todos os locais Buenos Aires é uma festa para os turistas. E como ela é linda!


As livrarias em Buenos Aires são outra atração a não perder, e as promoções permitem adquirir excelentes livros dos melhores autores argentinos a preços impossíveis de se conseguir no Brasil. Ultimamente, tenho me distraído com Ernesto Sabato.




A arquitetura portenha é uma clara demonstração do apogeu da cidade, de uma época onde Buenos Aires rivalizava na cultura, na arte, no luxo e na vida mundana com Paris, Berlim ou Londres. Cito como referências arquitetônicas, entre muitos, o Teatro Colón (na foto), o Centro Naval, as Galerias "Pacífico", o Círculo Militar ou o Ministério das Relações Exteriores (Palácio San Martin). A sede da chancelaria argentina ocupa aquele que já foi símbolo da riqueza das famílias portenhas, o Palácio Anchorena, construído entre 1905 e 1909, pelo arquiteto Alejandro Christophersen, a pedido de Mercedes Castellanos de Anchorena e que foi local de grandes recepções sociais até ser adquirido pelo Estado em 1936. No Palácio San Martin trabalha-se e inunda-se em arte.


Não tive tempo, até agora, para ir a uma casa de tangos e, mesmo se tivesse tido, não sei se teria ido, pois o trabalho me tem deixado estafado e, além disso, jantar sozinho não é lá muito agradável. Há certas coisas que ainda não fiz na vida, e começo achando que não farei mais, por exemplo, ir a uma casa de tangos em Buenos Aires, ao sambódromo no Rio de Janeiro, ou a um restaurante com show de flamenco em Madrid. Entretanto, mesmo sem conhecer muitos tangos e ser completamente desafinado em qualquer ritmo, esta tarde dei por mim caminhando e cantarolando um velho tango, sucesso desde meados da década de 1920. “Corrientes três cuatro ocho,/ segundo piso, ascensor./ No hay porteros ni vecinos, /adentro, cocktail y amor...”:

http://www.paixaoeromance.com.br/o_tango/amedialuz/amedialuz.htm

Se algum dia houve tango, cocktail e amor no número 348 da Avenida Corrientes, há muito tempo que deixou de haver, porque o prédio tem a aparência de ser, há largos anos, ocupado por insípidos escritórios comerciais. Pelo menos, colocaram, por cima do horroroso semáforo, um lampião sugestivo e uma placa que recorda os versos de “A media luz”.



http://www.youtube.com/watch?v=VIic8BQlZAc


Depois de ouvir Libertad Lamarque, decidi, vou jantar a uma casa de tangos e tomar um bom vinho da terra! Não será com certeza no número 348 da Corrientes, mas será em qualquer outro lugar, desde que ... a media luz...





Fazer compras, para quem gosta e tem tempo, ainda é conveniente para os brasileiros, mas os preços estão subindo a cada dia. Aos que ainda não foram e pretendem ir até Buenos Aires, não deixem de visitar as Galerias "Pacífico", onde se faz compras em meio a uma grande beleza.
Confirmem no vídeo a seguir:


 

Buenos Aires, 30 de abril de 2008.