domingo, 2 de maio de 2010

MULHERES CHEFES DE ESTADO NO BRASIL

                                                                   
Neste domingo à noite, aqui em Bruxelas, resolvi retomar o hábito de postar uma crônica sobre algum tema de meu interesse e que, principalmente, possa interessar aos leitores do "Lugar do Souto". Dediquei-me à pesquisa das mulheres que já foram Chefes de Estado no Brasil e é sobre elas que irei discorrer.


Para quem  ainda não sabia, já tivemos sim mulheres na chefia dos destinos do Brasil, tendo, duas delas pelo menos, exercido grande liderança e tomado algumas das decisões mais importantes da história do País. Até hoje, as nossas Chefes de Estado foram apenas três, a Rainha Dona Maria I, a Imperatriz Dona Leopoldina e a Princesa Regente Dona Isabel, todas, como é óbvio, durante a Monarquia, tanto no período do Reino Unido, quanto no do Império do Brasil.

Dona Maria I, a Piedosa. 

Dona Maria Francisca nasceu em Lisboa no ano de 1734 e era a primogênita do Rei de Portugal Dom José I, que teve quatro filhas e nenhum filho varão. Dona Maria usou, primeiramente, o título de Princesa da Beira e, depois da ascensão de seu pai ao trono, passou a ser chamada de Princesa do Brasil. Mesmo que o reinado tenha durado até sua morte, em 1816, Dona Maria I só exerceu, de fato, a chefia de Estado por quinze anos (1777-1792), porque, depois de ter sido acometida de doença mental, seu filho, o Príncipe Dom João (futuro Dom João VI), passou a exercer a regência do Reino Unido do Brasil e Portugal. 

Dona Maria I foi a primeira mulher Chefe do Estado no Brasil, embora, na época, nosso país estivesse  ligado a Portugal como Reino Unido. É sabido o interesse de Dona Maria I pelo bem-estar do Brasil distante e, nesse sentido, criou várias instituições de caridade no período do seu reinado.

Imperatriz Dona Leopoldina.

A princesa austríaca Leopoldina de Habsburgo chegou ao Brasil em 1817, já esposa do Príncipe Dom Pedro, com quem tinha casado por procuração e, embora enfrentando grandes dificuldades, tudo fez para se adaptar aos hábitos do nosso país e da Corte da Casa de Bragança. Aos poucos, a princesa aprendeu a amar e a respeitar o Brasil, tornando-se uma das figuras mais importantes da nossa independência. 

Estando iminente o início de uma guerra civil separatista na Província de São Paulo, antes de partir para lá, o Príncipe Regente Dom Pedro, no dia 13 de agosto de 1822, passou o poder a Dona Leopoldina, com o cargo de Chefe do Conselho de Estado e Princesa Regente Interina do Brasil. Tendo recebido informações de que Portugal preparava uma ação contra o Brasil, na impossibilidade de aguardar o retorno de Dom Pedro, a princesa, na manhã de 2 de setembro de 1822, na qualidade de Chefe Interina do Governo, reuniu-se com o Conselho de Estado e assinou o Decreto da Independência, que declarava o Brasil separado de Portugal. Na carta enviada ao marido, ela disse a célebre frase: "O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece". 

Dona Leopoldina foi coroada imperatriz a 1º de dezembro de 1822, na mesma cerimônia de coroação e sagração de Dom Pedro I. Inúmeras foram as ações da Imperatriz Dona Leopoldina em favor da  nação brasileira que nascia, visitando repartições públicas, inspecionando as alfândegas, os hospitais e outros locais de interesse da população, sempre procurando melhorar os serviços.  É a essa grande mulher, quando Chefe de Estado, que devemos a assinatura do Decreto da Independência. 

Princesa Dona Isabel.
Na segunda metade do século XIX, uma outra mulher, neta da Imperatriz Dona Leopoldina e trineta da Rainha Dona Maria I, assumiu algumas vezes a chefia do Estado brasileiro. Refiro-me à Princesa Dona Isabel Cristina de Bragança, química de formação e primeira senadora do Brasil.

Por três vezes a Princesa Isabel foi regente do País, praticando inúmeros atos na qualidade de Chefe de Estado. Na última regência, a 13 de maio de 1888, a princesa assinou o Decreto que aboliu a escravatura no Brasil, e que, provavelmente, foi um dos motivos da queda do Império. A convicção e determinação de Dona Isabel ultrapassaram os possíveis receios de não se tornar um dia Imperatriz e só esse ato já é o bastante para a colocar entre os nossos dirigentes mais corajosos e que tomaram importantes decisões em favor da melhoria de vida do povo brasileiro, abdicando do seu próprio interesse.

Como Chefe de Estado, na qualidade de Princesa Regente, Dona Isabel assinou o Decreto que modificou a nossa história, merecendo, sem dúvida, ainda que só De Jure, o título de Dona Isabel I, Imperatriz do Brasil.

Três momentos distintos  da história política do Brasil, em três épocas também diferentes. Três mulheres  que foram Chefes de Estado e três grandes dirigentes atuando em favor do nosso povo.  

Como elas, algum dia, outra haverá?