sábado, 2 de abril de 2011

RECIFE DE ONTEM, DE HOJE E DE SEMPRE


Se foi a saudade que me trouxe pelo braço, não sei, mas acho que sim, não vejo outro motivo para este regresso depois de um quarto de século ausente. Voltei para casa, isto é o que conta. Voltei para um Recife que já não é o da minha infância, nem o da minha adolescência, nem a cidade na qual eu vivi há algumas décadas, mas que, mesmo assim,  ainda posso chamar de meu Recife.

Gosto de acordar cedo no Recife, àquela hora em que os sabiás, rolinhas, bem-te-vis e tantos outros cantam anunciando a aurora, e sair passeando (sem nada nos bolsos ou nas mãos) pelas ruas do bairro onde nasci, numa rua onde o bairro das Graças se une ao dos Aflitos. Só mesmo no Recife existem bairros com nomes tão bizarros - não bastassem os nomes das ruas, de que já escrevi, há bastante tempo! 

Saio, sentindo no rosto a morna brisa matutina tão típica daqui. Caminho, caminho e caminho, sem rumo ou razão para caminhar, querendo, apenas, ver os casarões gastos pelo tempo e sentir o cheiro de terra úmida - da terra da minha terra.
                                                             
Ando a esmo, buscando um passado que não pode (nem deve) existir mais e me deparo em frente à capelinha dos Aflitos, onde fui a tantas missas com a minha família.
Continuo a caminhada e chego até o Clube Náutico, o meu time de coração, que lá continua vermelho e branco e imponente, apesar de tantos reveses. Faço o caminho de volta pela rua do Futuro, atravessando a rua Amélia e passando pela Rua João Ramos para chegar, finalmente, à Rua das Graças.
Dirijo-me, então, à Igreja de mesmo nome e onde fiz a minha Primeira Comunhão. Nada mudou, tudo mudou, eu mudei. Saio da Igreja das Graças e volto para casa devagarzinho, seguindo a toada dos pássaros matutinos.


Chego, então, à rua onde iniciei o meu caminho e procuro a minha casa, mas não a encontro. Como não a encontro se o número ainda está no muro? Mas o muro é outro, a casa lá dentro é outra, a rua parece ser outra. Só então me dou conta de que toda a caminhada não foi real, foi apenas um desejo, uma saudade enorme de um Recife que não existe mais, ao menos como era dantes.

Cadê o meu Recife de antigamente, onde andar a pé nas ruas era um prazer descuidado, onde as árvores tinham os troncos pintados pelos moradores, onde o sol tropical era menos forte, onde eu era jovem? Será que ele não existe mais? Penso e concluo que ele existe sim e está guardadinho bem dentro da minha memória, no fundo do meu coração. Mudou a paisagem, mudaram as pessoas, mudei eu, mas o meu Recife continua existindo, bonito, altaneiro, alegre e diferente do que um dia ele foi. Por isso e por muito mais estou feliz. Feliz por ter voltado à terra onde um dia nasci, ao meu Recife de ontem, de hoje e de amanhã, ao meu amado Recife de sempre.