sexta-feira, 26 de junho de 2009

SE A RUA DO CUPIM * FOSSE MINHA























Se a Rua do Cupim fosse minha, ela ainda teria flamboaiãs em ambos os lados, para que as folhas pudessem confortar, com suas sombras, os tranquilos moradores.

Se a Rua do Cupim fosse minha, os postes de iluminação ainda seriam de ferro e as lâmpadas teriam de ser acesas, ao cair da tarde, por um solene funcionário devidamente fardado.


Se a Rua do Cupim fosse minha, ela ainda teria os paralelepípedos originais, sem remendos de alcatrão ou piche e os carros circulariam, sem perigo de choque, nos dois sentidos.





Se a Rua do Cupim fosse minha, as crianças ainda brincariam de “Garrafão”, de “Lacochia” e, até mesmo, de “Dono de Calçada”, pois o pouco trânsito a todas daria a certeza de que as brincadeiras seriam respeitadas e, além delas, principalmente, a vida.




Se a Rua do Cupim fosse minha, as “boiadas” ainda passariam por ela, morosas e assustadoras, alvoroçando a meninada com receio dos pontiagudos cornos dos ruminantes que, sem o saber, caminhavam para o cadafalso.



Se a Rua do Cupim fosse minha, os pregões matinais, vespertinos e noturnos, (estes bem menos barulhentos) ainda apregoariam as suas mercadorias, permitindo que as compras essenciais fossem feitas com esmero e quase sem sair de casa.




Se a Rua do Cupim fosse minha, as saúvas operárias ainda fariam por ela o seu longo percurso, com calma e sem receio, já que o risco de serem interrompidas era inexistente, ou quase.


Se a Rua do Cupim fosse minha, os jabotis ainda poderiam fugir pelos portões entreabertos, pois sempre haveria quem os trouxesse de volta à casa que lhes pertencia.


Se a Rua do Cupim fosse minha, ela só teria um edifício de apartamentos, mesmo assim, com um só andar, sendo a entrada pela rua Bruno Maia.


Se a Rua do Cupim fosse minha, ela teria apenas duas casas em “estilo funcional”, as demais, permanecendo como sempre foram nos sonhos de minha infância.




Se a Rua do Cupim fosse minha, as cadeiras ainda seriam colocadas nas calçadas, para aproveitar o frescor da brisa noturna e jogar conversa fora.




Se a Rua do Cupim fosse minha, os homens mais velhos ainda ficariam de pijama ao portão, à espera do cuscuz quentinho, para acompanhar a suculenta ceia.




Se a Rua do Cupim fosse minha, seu Bilas e dona Bió ainda morariam na mesma casa, soturna, sombria e imponente, com leões de louça no portão, estátuas alegóricas no quintal e urubus de verdade no telhado.




Se a Rua do Cupim fosse minha, seu Adalberto ainda soltaria balões na noite de São João e muitos rojões, na véspera do Ano Novo.


Se a Rua do Cupim fosse minha, todos os seus moradores ainda correriam ao grito de “Pega ladrão” e, apanhado o meliante, ai dele e não dos honestos perseguidores.


Se a Rua do Cupim fosse minha, ela seria como dantes quando, para o meu olhar infantil, estava inserida numa redoma de cristal e alguém a havia mandado ladrilhar com pedrinhas de brilhantes, transformando tudo o que nela passava em flores e amores.


Mas a Rua do Cupim não é minha, não tenho flores, nem amores e, ainda menos, pedrinhas de brilhantes, para que a possa de novo ladrilhar, sorrindo e cantando a alegre canção popular. Pobre de mim!
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* A Rua do Cupim, que já foi objeto de outras postagens, fica na cidade do Recife, nos limites dos bairros das Graças e dos Aflitos (tanto a rua, quanto os bairros, de nomes bizarros).


terça-feira, 2 de junho de 2009

DOM PEDRO LUIZ DE ORLÉANS E BRAGANÇA E LIGNE




















ELOGIO A UM PRÍNCIPE DEFUNTO.
S.A.I.R. Dom Pedro Luiz Maria José Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orléans e Bragança e Ligne pode não ter sido, até hoje, um nome muito conhecido do grande público brasileiro, posto que a sua vida foi marcada pela discrição e pela inserção simples e rotineira na vida quotidiana da república, mas é um nome que nenhum brasileiro deve, doravante, deixar de homenagear.




É muito importante, para a a construção de nossa identidade, que os brasileiros não esqueçam a história nacional e recordem que durante 67 anos fomos uma Monarquia Constitucional, marcada por reconhecido progresso nas mais diversas áreas. Todos estudamos História do Brasil e nela aprendemos a amar e a respeitar a Augusta figura de Dom Pedro II, que tantos benefícios trouxe para a coesão e identificação de nossa nacionalidade. Dom Pedro II representa, no imaginário de muitos, a figura do pai ou do avô, que amamos mesmo sem ter conhecido.




Esta postagem, porém, não é para enaltecer os feitos do período monárquico, nem a pessoa do Imperador, mas para lamentar o trágico desaparecimento de um jovem brilhante e com um futuro promissor, que amava ao Brasil e que, por coincidência, era descendente em linha direta de Dom Pedro II (quarto neto). Refiro-me ao cidadão brasileiro Príncipe Dom Pedro Luiz de Orléans e Bragança, que nos deixou no vigor dos seus vinte e seis anos. A tragédia aérea de ontem enlutou inúmeras famílias e, a cada uma delas, transmito as sinceras condolências do blog Lugar do Souto.




Nesta ocasião, com o drama ainda tão recente e sem explicações plausíveis para o ocorrido, encaminho, na Augusta Pessoa do Senhor Dom Luiz, Chefe da Casa Imperial do Brasil, à Família agora enlutada, os mais sentidos e respeitosos pêsames. Que Deus Pai possa confortar a SS.AA.II.RR., avó, pais, tios e irmãos do desditoso Príncipe Dom Pedro Luiz. Os desígnios do Altíssimo escapam, por vezes, à nossa humana compreensão, só nos restando o consolo da lembrança do ente que nos deixou, juntamente com a certeza de que os planos por Ele traçados são sempre justos, porque decorrem de Sua Vontade e Infinita Bondade. Estamos certos de que, neste momento, Dom Pedro Luiz já está ao lado do Senhor, sendo recebido pelos muitos ilustres antepassados, entre eles, São Luís e São Nuno de Santa Maria.




Dom Pedro Luiz (na foto ao lado com a tia, Dona Maria Thereza)* era Príncipe do Brasil e Príncipe de Orléans e Bragança. Nasceu no Rio de Janeiro, em 12 de janeiro de 1983. Bacharel em Administração de Empresas pelo IBMEP do Rio de Janeiro, com pós-graduação em Economia pela Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. Presidente de Honra da Juventude Monárquica do Brasil, possuindo as seguintes condecorações Grã-Cruz das Ordens Imperiais de Dom Pedro I e da Rosa do Brasil. O Príncipe Dom Pedro Luiz era ligado às principais casas reais e principescas da Europa, sendo o seu desaparecimento profundamente chorado por todos os que o conheceram. Que a pessoa do jovem tragicamente desaparecido seja sempre lembrada pelos familiares, amigos e por cada brasileiro por suas virtudes, pelo papel na construção da história do nosso País e pelos muitos planos que ainda tinha para o porvir, é o que desejamos. Requiescat in pace.



Não conheci, pessoalmente, ao Príncipe Dom Pedro Luiz, mas, reafirmando o que disse no início desta postagem, tal como acontece com a figura do Imperador Dom Pedro II, também os seus ilustres descendentes fazem parte do imaginário coletivo e a eles aprendemos a amar e a respeitar como símbolos da nação brasileira.
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* Todas as fotos estão disponíveis na Internet.