segunda-feira, 24 de setembro de 2007

AS RUAS DO RECIFE



Os nomes das ruas do Recife sempre foram tema da poesia e da prosa dos nossos "grandes".
Reproduzo informação cedida por um amigo gaúcho, bem mais recifense do que muitos dos lá nascidos, e que responde à pergunta deixada no ar na postagem que antecede a esta:

"RUA NOVA: uma das mais tradicionais e conhecidas vias do bairro de Santo Antônio teve sua origem por volta de 1746, quando da construção da Matriz de Santo Antônio. No local, na época dos holandeses, foi construída a Casa da Pólvora, um depósito onde era armazenada a pólvora para os armamentos bélicos. Em 1752, o depósito foi transferido para um outro local mais distante, despovoado, sendo a casa vendida e demolida, surgindo no lugar o novo templo. Em 1870, o nome oficial passou a ser Rua Barão da Vitória, imposto pela Câmara Municipal, em homenagem ao general José Joaquim Coelho, agraciado com o título, pelos relevantes serviços prestados à pátria. A população, no entanto, continuou chamando-a de Rua Nova até hoje.

RUA DO PADRE INGLÊS: antigo beco, localizado no bairro da Boa Vista. A origem do nome é de 1837, quando ali residiu o reverendo inglês Charles Adye Austin, primeiro capelão da Igreja Anglicana da Santíssima Trindade, construída pela colônia inglesa do Recife, na esquina da atual Avenida Conde da Boa Vista (antiga Rua Formosa) com a Rua da Aurora, demolida posteriormente. Seu nome já foi mudado oficialmente para Rua Pereira da Costa (1918), mas continua sendo conhecida e referenciada pelo seu antigo nome.

RUA QUARENTA E OITO: localizada no bairro do Espinheiro, seu nome é uma homenagem à Revolução Praieira, que eclodiu em 1848. Um grupo de revolucionários da revolta costumava se reunir no antigo Sítio do Feitosa, naquela localidade. No início do século XX, era denominada de Rua Nunes Machado, principal vulto da Praieira.

RUA DO SOL: localizada no bairro de Santo Antônio, segue a margem do rio Capibaribe, desde a Ponte da Boa Vista até a de Santa Isabel. Já em 1835, há registros no Diário de Pernambuco referindo-se ao local com o nome de Rua do Sol. Sua denominação vem do fato de receber os raios solares na maior parte do dia. Já foi chamada de Cais do Machado. A Prefeitura, em 1884, mudou seu nome para Rua Dr. Ivo Miquelino e, em 1818, seu nome oficial era Rua Major Codiceira. É conhecida e chamada até hoje de Rua do Sol pela população.

RUA DA UNIÃO: localizada no bairro da Boa Vista, conserva até hoje a mesma denominação. A origem do nome vem de uma antiga tipografia que editava o jornal União. Local onde Manuel Bandeira passou parte da sua infância, abriga hoje no nº 263, o Espaço Cultural Passárgada, em homenagem ao poeta.

Algumas das antigas estradas suburbanas, ou seja, os caminhos mais longos que levavam aos subúrbios da cidade, ainda mantêm até hoje o nome de Estrada, como, por exemplo, a de Belém, no bairro de Campo Grande, cujo nome vem do antigo Engenho Belém, que existia onde hoje se encontra localizada a Igreja de Belém; a dos Remédios construída em 1850, que ligava os bairros da Madalena e Afogados, cujo nome vem da antiga Capela de Nossa Senhora dos Remédios ali existente; a do Encanamento, assim denominada porque pelo local passava a tubulação da Companhia do Beberibe, que levava água do Açude do Prata, em Dois Irmãos, para abastecer parte da cidade. Outras estradas foram transformadas em avenidas como a de Caxangá, que já se chamou de Estrada de Paudalho e, em 1875, era conhecida como Estrada do Ambolê, e a Estrada da Imbiribeira, cuja denominação oficial é Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, uma homenagem ao comandante das tropas brasileiras na II Guerra Mundial.


FONTES CONSULTADAS:
CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O Recife e suas ruas: "Se essas ruas fossem minhas..." Recife: Edificantes, 2002.
Se essas ruas fossem minhas. Suplemento Cultural D.O. PE, Recife, ano 16, p. 12-14, abr. 2002.
FRAGOSO, Danillo. Velhas ruas do Recife. Correio da Manhã: Caderno do Nordeste, Rio de Janeiro, 13 jan. 1967. p.20, Suplemento especial.
PERNAMBUCO: ruas do Recife: diccionario completo das ruas do município do Recife, com os nomes antiguíssimos, antigos e modernos e ligeiro histórico dos bairros. Recife: Papelaria Ingleza, 1921. 112 p.
SILVA, Leonardo Dantas. Se essas ruas fossem minhas, os seus nomes não seriam mudados. Recife: Fundaj. Inpso; Coordenadoria de Estudos Folclóricos, 2001. (Folclore, n.287)."

domingo, 23 de setembro de 2007

A RUA DO PADRE INGLÊS


Na apresentação da Coletânea “A rua do Padre Inglês”, de Everardo Norões, publicada na Coleção Guizos, da 7 Letras, Marco Lucchesi diz “[...] Sou amigo de Everardo, mas sou mais amigo de sua poesia. [...]” E a verdade dessa poesia me cobre de uma vasta emoção.[...]”

No dia dos meus sessenta anos, recebi “A rua do Padre Inglês” do autor, com uma dedicatória que, sutilmente, nos aproxima.

A rua do Padre Inglês - a rua mesmo, no bairro da Boa Vista, no Recife -, não o livro, povoava os meus pesadelos de infância, sempre a achei estranha, e o "estranho" me assustava. Era a única rua que, de repente, mudava de rumo, que tinha uma "curva" ao meio, e aquela mudança de sentido fugia ao meu senso infantil. Lembro bem de que ela tinha (creio que ainda tem) o muro do Sanatório Recife de um lado e, do outro, sem dúvida, tinha casas, que nas minhas lembranças não eram todas de frente para a rua, havia algumas que eram de lado (ou será que essa lembrança que tenho é mais uma fantasia da mente?).
Da rua do Padre Inglês, ou melhor, de quem nela morava, seguirá a minha descendência, ainda que indireta. Curioso!

Lendo o livro de Everardo, senti-me, eu também, coberto de uma vasta emoção com a sua verdade, e lembrei que a rua do Padre Inglês - título de um poema e da coletânea -, e a rua do cupim, onde nasci, têm várias semelhanças (ambas devem ser importantes, pois já serviram de título para contos e poemas).

Ainda que os morcegos de Everardo, que dão título a um dos poemas do livro, não sejam, certamente, os que voavam pelos quintais da rua do padre inglês, lembrei dos morcegos do meu quintal, que eu "eliminava", ferozmente, com uma vara em constante movimento. Pelo menos, os morcegos das duas ruas eram iguais.

Os Morcegos

São eles
que me anunciam a noite.
O roçar das asas
não me assusta.
São falas interditas,
lâminas de febre
que me asomam a garganta.
São eles que me enredam
com rastros de cinza
a bordarem, no ar,
as letras do Teu nome.
E me alinhavam
com fios de escuro,
enquanto o dia se despede
nos batentes da chuva.”
Everardo Norões

Mas, resta a pergunta da qual não sei a resposta, “Quem era esse padre inglês que deu nome à rua?”

"PIAF - UM HINO AO AMOR" ("LA MÔME")


Ontem, em Brasília, aconteceu a pré-estréia de “Piaf – Um Hino ao Amor”. Quem ainda não teve oportunidade de assistir, vá correndo, assim que puder.

“La Môme”, “La Vie en Rose”, “Piaf – Um Hino ao Amor”, não importa qual o título que seja dado ao filme de Olivier Dahan (cineasta francês pouco conhecido do grande público no Brasil), o que importa é a beleza plástica, a excelente reconstituição das épocas em que se desenrola a narrativa, a perfeita interpretação de Marion Cotillard. “La Môme” abriu o Festival de Berlim de 2007 e estreou nas telas francesas a 14 de fevereiro, com sucesso ininterrupto até hoje.

A vida de Edith Piaf já foi objeto de musicais (quem não lembra com saudade da Piaf interpretada por Bibi Ferreira?), de filmes e de livros, mas a cada nova versão surge um novo encantamento. Edith Giovanna Gassion, de nome artístico Edith Piaf, é uma mulher cuja simples existência, marcada por infortúnios, sucessos e paixões arrebatadoras, seria suficiente para atrair público onde quer que fosse representada. Ocorre, porém, que além de toda essa vida conturbada, Edith Piaf era uma artista inigualável, dona de uma voz que só de vez em quando surge na vida artística de não importa qual país.
.
«Piaf est une étoile qui se dévore dans la solitude nocturne du ciel de France» (Jean Cocteau).
Marion Cotillard, repito, está magistral na interpretação de Piaf, desde a adolescência até o fim de sua curta vida. Interpretação que, sem dúvida, ainda será muito premiada.

Reproduzo, a seguir, trechos da crítica do filme “La Môme” feita por Dominique Borde, publicada no “Le Figaro”, do dia 14 de fevereiro deste ano (extraída da Internet):

«L’émotion intacte

Enfant miséreuse abandonnée par sa mère, recueillie par des prostituées, aveugle pendant des mois avant d'accompagner son père pour chanter dans les rues, elle tombe sous la coupe d'un proxénète, est soupçonnée de meurtre. Devenue célèbre, malade et toxicomane, elle est amoureuse d'un boxeur qui disparaît tragiquement... La vie de Piaf est un mélo comme personne n'oserait en inventer. Le film de Dahan est donc à cette image. Non pas pour suivre le chemin balisé d'un destin dramatique et glorieux, mais pour n'en saisir que des bribes, des moments forts qui impriment la pellicule et touchent le coeur et les tripes pour redessiner la silhouette frêle et fantomatique de la Môme portée et transcendée par une voix unique.

De New York en 1959 à Belleville en 1918, de l'Olympia à Grasse où elle mourra épuisée, on va et vient, bouleversant la chronologie pour picorer et recomposer le portrait en pied de cette immense petite bonne femme. Avec la voix authentique de Piaf, sa gouaille, sa souffrance, ses coups de coeur, ses crises, ses vices et sa pureté, le film raconte, au-delà de la biographie et de ses inexactitudes, un destin et reflète une légende imparfaite et finalement plus fidèle de la chanteuse de L'Hymne à l'amour. En cela l'émotion est intacte et le film possède une force et un élan qui ne peuvent qu'émouvoir.

En cela aussi Marion Cotillard qui, a priori, n'avait aucune ressemblance avec son modèle est saisissante de vérité. Silhouette tremblotante qui affronte la scène pour porter ses mots à bout d'âme et de voix, pauvresse ou jeune femme caractérielle et provocante, elle incarne bien plus qu'elle n'interprète cette disgrâce qui ira vers la grâce, ce malheur d'où naîtra la félicité, ce besoin d'amour qui se heurtera au destin. Emporté par la foule et la nostalgie, le film est à voir comme on écoute un disque de Piaf, pour vibrer, frissonner, la gorge nouée, l'oeil humide, et partager avec elle ses joies et ses peines, inspirant un souffle de vie qui s'éternise dans un cri du cœur.»

sábado, 22 de setembro de 2007

CARLOS PELLICER



Não faz muito tempo e, confesso, bem mais tarde do que eu gostaria tivesse acontecido, fui apresentado à poesia de Carlos Pellicer. Antes muito tarde do que nunca Obrigado, Everardo Norões.
Everardo Norões, na introdução da Antologia Poética de Carlos Pellicer, da Editora En Sol, destaca a latinidade e a consequente "cristianidade" do poeta, resultado natural da mistura espanhola e maia do povo do seu México natal.
Da leitura dos poemas de Pellicer, transcrevo a “Canción de Olinda”, que integra a “Suíte brasilera”, escrita na década de 1920.
Olinda das palmeiras que um dia desafiaram as árvores do fruta-pão do Recife.
Olinda, vila irmã da vila do Recife, que agora, ainda bem, convive com a irmã sem guerras e sem incêndios de parte a parte destruidores.
Os mascates, como que para selar a vitória dos camarões sobre os pés descalços, hoje povoam não só as ruas do Recife mas também as da altaneira Olinda. Não são "incendiários" mas, algumas vezes, são igualmente destruidores.
“¡Canción de Olinda,
Canción!
Canción de las palmeras sobre la colina
y de la colina junto al corazón. Canción de Olinda
cantada al son
de la cintilación de agua verde,
jardín de sol.
Olinda, la brasilera
blasonada y linda
que ató al penacho de sus palmeras
juegos de cintas
y es la más linda.
Canción de Olinda,
canción
de la palmera de la colina
y de la colina junto al corazón.”
Carlos Pellicer

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

GABY E SANCHO




Sem dúvida que formam um casal feliz, mas que parecem triste, lá isso parecem!
Saúde Gaby! Fique logo boa!

ÚLTIMA LEMBRANÇA




Um dia, quando eu estiver bem longe do tempo de hoje e do espaço de agora e alguém vier me perguntar por uma lembrança do Recife, algum amor, algum lugar, algum monumento, alguma praça, alguma árvore, alguma flor, seja lá o que for, mas que seja uma lembrança boa, bonita, que me traga paz -, não hesitarei na resposta: a árvore do fruta-pão.



Árvore forte, frondosa, com folhas lindas e com frutos igualmente lindos e tão diferentes dos outros lá do Recife. Frutos que pendem dos galhos como balões festivos e redondos como seios jovens que escondem, dentro de sua casca rija, um saboroso manjar.


Gosto de estar no Recife, à noite, em algum lugar onde uma luz difusa me permita apenas ver a árvore do fruta-pão e, então, apreciar as folhas que parecem suavemente bailar ao sopro da mesma brisa alísea morna, que vem do leste e que massageia a minha face.


Divago e penso que a árvore do fruta-pão deve ser uma árvore triste, pois ela não tem um nome só seu, como as outras árvores que lhe fazem companhia. Mangueira, derivado, mas diferente de manga, sapotizeiro, diferente de sapoti, oitizeiro, diferente de oiti, mangabeira, diferente de mangaba. Coitada da árvore do fruta-pão!
O senhor do seu nome é o fruto que ela cuidadosamente protege, não ela! A árvore do fruta-pão não tem um nome só seu, é apenas a fruta-pão, em homenagem ao fruta-pão. Não tem nome, mas fornece graciosamente o pão a quem não quer sair do quintal.

A árvore do fruta-pão não tem um nome só seu, mas é linda!

Tenho a certeza que a lembrança da fruta-pão será, um dia, a última lembrança que guardarei
.

FABRICE MULHEIM

Fabrice Mulheim é um pintor contemporâneo. A galeria do artista, que eu nunca visitei, fica em Biarritz, França. Pela Internet, descobri que, além de uma fascinante pintura, ele também tem ótimos trabalhos em escultura. Fabrice Mulheim é um nome que os interessados em arte contemporânea devem guardar e pesquisar os seus trabalhos.
Um dia, na P
lace des Vosges, em Paris, gostei do quadro ao lado: "The Yellow Guy". Adquiri e, atualmente, está exposto em nossa casa, no Recife.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

VIEIRA DO MINHO

Vieira do Minho, como o nome já o indica, fica na província do Minho, em Portugal. É um Concelho e, ao mesmo tempo, a vila sede desse Concelho. A beleza da paisagem de Vieira merece a postagem destas duas fotos.













quarta-feira, 19 de setembro de 2007

ARTHUR RIMBAUD



«Arthur Rimbaud est né à Charleville, France, le 20 octobre 1854. Après la naissance de cinq enfants, dont Arthur était le deuxième, sob pére, Frédéric Rimbaud abandonne sa famille. Au départ de son mari, Vitalie Cuif emménage avec ses enfants dans un taudis, rue Bourbon, une des plus misérables rues de Charleville. Arthur a alors 7 ans.»

É geralmente com o texto acima que qualquer manual de literatura francesa, ou as inúmeras enciclopédias que por aí circulam, iniciam a informação sobre Rimbaud. Poeta maldito, gênio incompreendido, revolucionário, revoltado, inconformado ou, apenas, um homem em busca de si mesmo?
Falar de Arthur, o homem, não nos compete aqui fazer, do poeta sim, cumpre-nos falar, mas para tal, ninguém melhor do que ele próprio, por intermédio do magistral “Bateau Ivre”.
O poeta Rimbaud viverá enquanto a cultura humana viver.
Com a palavra, o poeta:

“Le bateau ivre
Comme je descendais des
Fleuves impassibles,
Je ne me sentis plus guidé par les haleurs :
Des Peaux-Rouges criards les avaient pris pour cibles,
Les ayant cloués nus aux poteaux de couleurs.
J'étais insoucieux de tous les équipages,
Porteur de blés flamands ou de cotons anglais.
Quand avec mes haleurs ont fini ces tapages,
Les Fleuves m'ont laissé descendre où je voulais.
Dans les clapotements furieux des marées,
Moi, l'autre hiver, plus sourd que les cerveaux d'enfants,
Je courus !
Et les Péninsules démarrées
N'ont pas subi tohu-bohus plus triomphants.
La tempête a béni mes éveils maritimes.
Plus léger qu'un bouchon j'ai dansé sur les flots
Qu'on appelle rouleurs éternels de victimes,
Dix nuits, sans regretter l'oeil niais des falots !
Plus douce qu'aux enfants la chair des pommes sûres,
L'eau verte pénétra ma coque de sapin
Et des taches de vins bleus et des vomissures
Me lava, dispersant gouvernail et grappin.
Et dès lors, je me suis baigné dans le
Poème
De la Mer, infusé d'astres, et lactescent,
Dévorant les azurs verts ; où, flottaison blême
Et ravie, un noyé pensif parfois descend ;
Où, teignant tout à coup les bleuités, délires
Et rhythmes lents sous les rutilements du jour,
Plus fortes que l'alcool, plus vastes que nos lyres,
Fermentent les rousseurs amères de l'amour !
Je sais les cieux crevant en éclairs, et les trombes
Et les ressacs et les courants : je sais le soir,
L'Aube exaltée ainsi qu'un peuple de colombes,
Et j'ai vu quelquefois ce que l'homme a cru voir !
J'ai vu le soleil bas, taché d'horreurs mystiques,
Illuminant de longs figements violets,
Pareils à des acteurs de drames très antiques
Les flots roulant au loin leurs frissons de volets !
J'ai rêvé la nuit verte aux neiges éblouies,
Baiser montant aux yeux des mers avec lenteurs,
La circulation des sèves inouïes,
Et l'éveil jaune et bleu des phosphores chanteurs !
J'ai suivi, des mois pleins, pareille aux vacheries
Hystériques, la houle à l'assaut des récifs,
Sans songer que les pieds lumineux des
Maries
Pussent forcer le mufle aux
Océans poussifs !
J'ai heurté, savez-vous, d'incroyables
Florides
Mêlant aux fleurs des yeux de panthères à peaux
D'hommes !
Des arcs-en-ciel tendus comme des brides
Sous l'horizon des mers, à de glauques troupeaux !
J'ai vu fermenter les marais énormes, nasses
Où pourrit dans les joncs tout un Léviathan !
Des écroulements d'eaux au milieu des bonaces,
Et les lointains vers les gouffres cataractant !
Glaciers, soleils d'argent, flots nacreux, cieux de braises !
Échouages hideux au fond des golfes bruns
Où les serpents géants dévorés des punaises
Choient, des arbres tordus, avec de noirs parfums !
J'aurais voulu montrer aux enfants ces dorades
Du flot bleu, ces poissons d'or, ces poissons chantants.
- Des écumes de fleurs ont bercé mes dérades
Et d'ineffables vents m'ont ailé par instants.
Parfois, martyr lassé des pôles et des zones,
La mer dont le sanglot faisait mon roulis doux
Montait vers moi ses fleurs d'ombre aux ventouses jaunes
Et je restais, ainsi qu'une femme à genoux...
Presque île, ballottant sur mes bords les querelles
Et les fientes d'oiseaux clabaudeurs aux yeux blonds.
Et je voguais, lorsqu'à travers mes liens frêles
Des noyés descendaient dormir, à reculons !
Or moi, bateau perdu sous les cheveux des anses,
Jeté par l'ouragan dans l'éther sans oiseau,
Moi dont les Monitors et les voiliers des Hanses
N'auraient pas repêché la carcasse ivre d'eau ;
Libre, fumant, monté de brumes violettes,
Moi qui trouais le ciel rougeoyant comme un mur
Qui porte, confiture exquise aux bons poètes,
Des lichens de soleil et des morves d'azur ;
Qui courais, taché de lunules électriques,
Planche folle, escorté des hippocampes noirs,
Quand les juillets faisaient crouler à coups de triques
Les cieux ultramarins aux ardents entonnoirs ;
Moi qui tremblais, sentant geindre à cinquante lieues
Le rut des Béhémots et les Maelstroms épais,
Fileur éternel des immobilités bleues,
Je regrette l'Europe aux anciens parapets !
J'ai vu des archipels sidéraux ! et des îles
Dont les cieux délirants sont ouverts au vogueur :
- Est-ce en ces nuits sans fonds que tu dors et t'exiles,
Million d'oiseaux d'or, ô future Vigueur ?
Mais, vrai, j'ai trop pleuré !
Les Aubes sont navrantes.
Toute lune est atroce et tout soleil amer :
L'âcre amour m'a gonflé de torpeurs enivrantes.
Ô que ma quille éclate !
Ô que j'aille à la mer !
Si je désire une eau d'Europe, c'est la flache
Noire et froide où vers le crépuscule embaumé
Un enfant accroupi plein de tristesse, lâche
Un bateau frêle comme un papillon de mai.
Je ne puis plus, baigné de vos langueurs, ô lames,
Enlever leur sillage aux porteurs de cotons,
Ni traverser l'orgueil des drapeaux et des flammes,
Ni nager sous les yeux horribles des pontons.”

terça-feira, 18 de setembro de 2007

O VOO SOLITÁRIO DAS SAUDADES DE UM REI

"O voo solitário das saudades de um rei" é apenas um projeto, um ideal, uma vontade enorme de chegar à última página.

A última página de um diário fictício escrito por um homem que um dia, por força de um infortuito acaso, tornou-se rei de Portugal, o último, de facto. A saudade que Dom Manuel II sempre sentira pelo seu país, junto com a iminência da morte, conduziram-no a ser espectador não interveniente dos 42 anos de sua vida. Um voo imaginário e solitário, nada mais. O diário é ficção, a narrativa é romanceada, mas os fatos são todos reais, fruto de pesquisas apenas iniciadas.

Dom Manuel II morreu há 75 anos e, em 2008, será celebrado o centenário da ascensão ao trono de Portugal.
A seguir, um trecho da segunda página de "O voo solitário ...":

"[...] Devido ao aumento progressivo das dores, fui obrigado a deixar Wimbledon mais cedo do que havia previsto, a despedir-me de todos e a vir para Fulwell Park, não sem antes ter lançado um olhar furtivo a Miss Withers, que estava bem atrás do Committee Box — Ela nem se apercebera que eu a havia visto desde que lá chegara ― Parecia tão contente em companhia, creio eu, da mãe! Como é grande a afeição que sinto por minha secretária! Para além de ser uma excelente profissional e uma bibliotecária do mais alto nível, que tanto me tem ajudado nos trabalhos do Catálogo dos Livros Antigos Portugueses, tornou-se, no correr destes oito anos de convivência, uma grande amiga e, por vezes mesmo, uma atenta confidente. Na última quinta-feira, ao dedicar-lhe, com a minha assinatura, o primeiro exemplar impresso do 2° volume do Catálogo, percebi o quanto ficou envaidecida e até mesmo emocionada... Não fosse ela a primeira a merecê-lo, que outra pessoa o seria? Que estranha foi a sensação que tive ontem ao vê-la! Ao sair, olhei-a apenas de soslaio e ela, mais uma vez, nem notou, mas uma enorme paz e, sei lá porquê, uma imensa saudade, apoderou-se do meu espírito!… Segunda-feira, tão logo chegue para continuar os nossos trabalhos, pedir-lhe-ei autorização para passar a tratá-la em público por Margery, melhor, talvez Miss Margery, que ainda assim é bem menos formal do que Miss Withers, como até hoje a chamei. Aproveitarei também a ocasião para lhe dizer da minha grande amizade e respeito. Por que não o fazer? Gostaria de relaxar um pouco a rigidez das normas protocolares que sempre mantivemos aqui em Inglaterra, mas terei, como é natural, de comunicar esta mudança de tratamento à minha mulher que, quanto a ela, poderá tratar Margery da maneira que melhor lhe aprouver.[...] "

FELINOS (NESTE CASO, "FELINAS") ESPECIAIS

Dona Sancha-Aphonsa não é um felino qualquer.


Nasceu em Vieira do Minho, Portugal, em 15 de Agosto de 2003.













Aos 6 meses, ela já morava em Bruxelas e passava o Inverno admirando a neve que caía lá fora mas, rapidamente, voltava para a cama, fazendo pose para a foto.

Hoje, aos 4 anos, passa o tempo de pernas pr'ó ar, curtindo a brisa da cidade do Recife, Brasil.






















Beatrix-wilhelmina
, por seu lado, já é uma "senhora". Nasceu em Brasília, a 18 de janeiro de 1998. Quando tinha um ano e meio, divertiu-se em Bruxelas.

Atualmente, ela adora dormir de frente para o mar, na praia de Boa Viagem, no Recife.

Beatrix-Wilhelmina e Dona Sancha-Aphonsa são grandes amigas.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

BUDA VISTA DE PESTE



O Danúbio separa o que as pontes unem, Budapeste.



A beleza de duas cidades lindas - Buda e Peste - que se fundem numa só, ainda mais linda.

Budapeste merece uma visita em qualquer época do ano, a pé, com calma, sem pressa, emergindo em uma infinita beleza, de dia ou de noite. Lá ainda se pode andar a pé.

LIVROS






Gostaria de indicar o livro que estou "devorando" atualmente: "O Príncipe Maldito". A narrativa da autora, Mary Del Priore, é boa e a leitura atraente para aqueles que se interessam pelo período correspondente ao fim do Segundo Império e pelos personagens que atuaram nos “bastidores” da nossa história.
Seguem algumas notas sobre o livro, recolhidas da Internet no site

http://www.objetiva.com.br/objetiva/cs/?q=node/1467 :
“Mary Del Priore revela a trágica e fascinante história do herdeiro da família imperial escolhido para suceder o avô Dom Pedro II, último imperador do Brasil


O Brasil quase teve um terceiro imperador. Se a Proclamação da República não tivesse alterado os rumos da história que se desenhava até então, Dom Pedro III teria sido Pedro de Alcântara Augusto Luis Maria Miguel Rafael Gonzaga de Bragança Saxe e Coburgo, filho primogênito da princesa Leopoldina e de seu marido, Luis Augusto Maria Eudes de Saxe e Coburgo. Neto mais velho de D. Pedro II, Pedro Augusto nasceu no Brasil, mas morava na Áustria, de onde retornou aos cinco anos, quando morreu sua mãe, para suceder o avô. É que a famosa princesa Isabel, primogênita do imperador e primeira na linha de sucessão ao trono, até então não conseguira engravidar e D. Pedro II temia que ela não desse um herdeiro ao trono do Brasil. Por isso, o monarca mandou vir da Europa o neto mais velho, filho de sua caçula Leopoldina, que àquela altura já dava à luz o quarto filho.


Alto, louro, de olhos azuis, Pedro Augusto parecia-se muito com o avô, a quem se ligou por laços de afeto e interesses comuns. Até os 11 anos, foi tratado na Corte, no colégio Pedro II onde estudava, e por toda parte, como futuro herdeiro. Mas eis que em 1875 nasce o príncipe do Grão Pará. Depois de dez anos e muitas tentativas, a princesa Isabel dava à luz um outro Pedro. A sucessão estava garantida. Porém, iniciava-se ali a tragédia pessoal de Pedro Augusto, personagem fascinante e até hoje obscuro, revelado agora neste livro pela historiadora Mary Del Priore. O afastamento do menino do centro do poder em detrimento do primo, filho de Isabel com o odiado Gastão

 D´Eu, o Conde D´Eu, assim como a lenta conspiração que tinha por objetivo colocá-lo no trono do avô em meio à guerra política que acabou por derrubar a monarquia, dão início a mais um capítulo da história íntima da família imperial brasileira, carregado de tintas folhetinescas e inexplorado nos bancos escolares – um conto de fadas às avessas, como define no texto de orelha do livro o jornalista e escritor Eduardo Bueno, autor dos quatro volumes da coleção de história Terra Brasilis:

"Neste O Príncipe Maldito, os últimos dias do Império brasileiro e o amanhecer incerto da República desfilam na tela grande: há corpos nus, salões empoeirados, militares vacilantes que conspiram, jornalistas inflamados, nobres que arrotam, princesas que menstruam. Dá quase para sentir o cheiro do ralo enquanto o elenco de carne e osso vai construindo uma história viva, volátil, vibrante. A nossa história (...). Aqui está, de corpo inteiro e alma aberta, um 'romance de não-ficção': a vida sem obras de Pedro Augusto de Saxe e Coburgo – o príncipe que sonhou ser D. Pedro III, mas virou sapo quando o Império das circunstâncias cedeu lugar à República dos fatos.”"


Recomendo, igualmente, a leitura de "1808". A descrição jornalística de Laurentino Gomes torna o acompanhamento dos fatos de leitura fácil e, junto com o tema central da transladação (que ele optou por denominar “fuga”) da família real, da corte e de todo o aparato do Estado português para o Brasil, nos fornece um relato dos acontecimentos e das pessoas que mais se destacavam, àquela altura, na Europa e no Brasil.

domingo, 16 de setembro de 2007

POR QUE O TÍTULO DO BLOG ?

Lugar do Souto - Lanhoso - Portugal

Casa da Vila

Capela da Casa de S. Tiago do Souto.














Fotos recentes de casas que pertenceram à nossa família, do século XVII até início do século XX. As casas ficam no Lugar do Souto, referido no título, em Lanhoso, Póvoa de Lanhoso, Portugal.

ARTE DE LAURO MARINHO






























Lauro Marinho, meu amigo e médico de renome na cidade do Recife, pintor nas horas vagas e excelente cozinheiro. Seus quadros tratam de temas ligados ao folclore de Pernambuco, Brasil. Apresento três dos seus trabalhos.







Um comentário ao texto acima:

Fui criticado, por um amigo comum, por não ter identificado o Dr. Lauro como "gourmet" ou "chef", mas simplesmente pelo substantivo "cozinheiro". Ocorre que, de acordo com o dicionário Aurélio, "Gourmet" é o indivíduo apreciador e conhecedor de iguarias finas. Já "Chef" ou "Maitre de cuisine", em francês e, por empréstimo em alguns outros idiomas, é aquele que faz do fato de ser cozinheiro a sua profissão e atinge o grau mais alto no escalão profissional.
"Cozinheiro", porém, é, em primeiro lugar, para o Aurélio citado "Homem que sabe cozinhar".
Daí, reafirmo, o excelente médico e artista é mesmo, também, um grande cozinheiro.

L'ETRANGER

"- Qui aimes-tu le mieux, homme énigmatique, dis ? Ton père, ta mère, ta soeur ou ton frère ?
- Je n'ai ni père, ni mère, ni soeur, ni frère.
- Tes amis ?
- Vous vous servez là d’une parole dont le sens m'est restée jusqu'à ce jour inconnu.
- Ta patrie ?
- J'ignore sous quelle latitude elle est située.
- La beauté ?
- Je l’aimerais volontiers, déesse et immortelle.
- L’or ?
- Je le hais comme vous haïssez Dieu.
- Eh ! qu'aimes-tu donc, extraordinaire étranger ?
- J'aime les nuages... les nuages qui passent... là-bas... là-bas... les merveilleux nuages !"

BAUDELAIRE