sexta-feira, 21 de setembro de 2007

ÚLTIMA LEMBRANÇA




Um dia, quando eu estiver bem longe do tempo de hoje e do espaço de agora e alguém vier me perguntar por uma lembrança do Recife, algum amor, algum lugar, algum monumento, alguma praça, alguma árvore, alguma flor, seja lá o que for, mas que seja uma lembrança boa, bonita, que me traga paz -, não hesitarei na resposta: a árvore do fruta-pão.



Árvore forte, frondosa, com folhas lindas e com frutos igualmente lindos e tão diferentes dos outros lá do Recife. Frutos que pendem dos galhos como balões festivos e redondos como seios jovens que escondem, dentro de sua casca rija, um saboroso manjar.


Gosto de estar no Recife, à noite, em algum lugar onde uma luz difusa me permita apenas ver a árvore do fruta-pão e, então, apreciar as folhas que parecem suavemente bailar ao sopro da mesma brisa alísea morna, que vem do leste e que massageia a minha face.


Divago e penso que a árvore do fruta-pão deve ser uma árvore triste, pois ela não tem um nome só seu, como as outras árvores que lhe fazem companhia. Mangueira, derivado, mas diferente de manga, sapotizeiro, diferente de sapoti, oitizeiro, diferente de oiti, mangabeira, diferente de mangaba. Coitada da árvore do fruta-pão!
O senhor do seu nome é o fruto que ela cuidadosamente protege, não ela! A árvore do fruta-pão não tem um nome só seu, é apenas a fruta-pão, em homenagem ao fruta-pão. Não tem nome, mas fornece graciosamente o pão a quem não quer sair do quintal.

A árvore do fruta-pão não tem um nome só seu, mas é linda!

Tenho a certeza que a lembrança da fruta-pão será, um dia, a última lembrança que guardarei
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