domingo, 20 de abril de 2008

QUEM FOI RAOVAL BERIOR ?


Desde a transcrição no Lugar do Souto (8 de março 2008) da crônica social de Raoval Berior, publicada em um periódico da cidade do Recife, em 30 de outubro de 1932, que não param de me fazer perguntas indagando sobre aquele desconhecido cronista de uma sociedade que não existe mais. As inúmeras pesquisas que fiz permitiram chegar aos seguintes dados:
Em 1919, a repentina morte do senhor Berior mudou radicalmente a vida da família. A loja que os sustentava passou para o controle dos maridos das duas filhas mais velhas e os cunhados de Raoval, que detestavam os seus modos peculiares, não descansaram enquanto não o expulsaram de casa e da redondeza.

Raoval Berior era o terceiro filho de um casal emigrado do Líbano que chegou ao Recife (Brasil) na década de 1880.






Raoval nasceu em um amplo sobrado por cima da retrosaria do pai, na rua do Rangel, no domingo de carnaval de 1899 e, coincidência ou não, foi um carnavalesco de mão cheia até o fim de sua não muito longa vida. Na infância, foi coroinha na vizinha Igreja do Livramento e era o encanto dos padres quando subia para o coro e os deleitava com a maravilhosa voz de querubim.

Foi a duras penas que o casal Berior educou as quatro filhas e o único filho varão, mas, graças à loja do patriarca e à doçaria da esposa, os pais conseguiram dar uma educação razoável aos cinco rebentos. As quatro filhas concluíram a Escola Normal e Raoval chegou ao segundo ano de Belas Artes, mas teve de desistir dos estudos depois da morte do pai.

Raoval, as irmãs ainda solteiras, a mãe, dona Floraval (que adorava o filho), mudaram para uma casa bem menor na rua de São João, no bairro de São José e o nosso futuro cronista teve de abandonar as Belas Artes para ajudar no sustento da mãe e das irmãs. Filho e irmão exemplar, recifense da gema e um apaixonado pela sociedade de então, foi o que a pesquisa constatou dos pouquíssimos relatos sobre Raoval Berior.

Entre 1920 e 1930 nada se registra sobre as suas atividades, existindo as mais diversas versões, que, por não serem de fontes fidedignas, prefiro omitir.


De repente, em dezembro de 1930, aparece a primeira crônica social, assinada com o seu nome verdadeiro, o que era uma temeridade, não só no Recife, mas também no Rio de Janeiro e em São Paulo daquela época. Raoval, porém, era destemido e, em menos de um ano, ele sim era temido pela sociedade, pois com as suas alfinetadas, perspicácia na crítica e uma constante observação da sociedade, era capaz de destruir quem ele quisesse e de quem não gostasse. Poder demais para aquele filho de imigrantes libaneses e que, mais tarde, lhe deve ter custado a vida.

A sociedade do Recife na década de 1930 foi reproduzida com minúcias por vezes picantes nos escritos do cronista. O estilo é simplório, com alguns erros gramaticais, às vezes piegas e repetitivo, mas reflete, sem dúvida, a sofrida, ambiciosa, sonhadora e mística personalidade do autor e era a maneira como ele via a sociedade do Recife do entre guerras.
Pelo que eu pude notar das crônicas a que tive acesso, Raoval – fiel aos amigos - tinha os seus ídolos e esses eram sempre poupados e objeto de palavras elogiosas, cheias de exageros, nos textos publicados todos os domingos.

Raoval Berior foi encontrado morto em uma esquina da rua Direita, na Quarta-Feira-de-Cinzas de 1939.


Com o relato acima, espero ter satisfeito a quem me perguntou. Assumo o compromisso de que várias crônicas de Raoval, com fatos marcantes na sociedade da capital pernambucana, na década de 1930, serão publicadas no Lugar do Souto.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

BRUXELLES REVISITÉE


Em 2008, esta é a segunda vez que eu venho a Bruxelas e não esperava fazer muita coisa, além de comparecer às reuniões de trabalho rotineiras. A curta permanência de cinco dias não iria dar para muito mais do que isso – pelo menos era assim que eu pensava. Enganei-me, porém.
A folga do trabalho, nesta quarta-feira, permitiu que fosse ao Palais des Beaux-Arts - que de uns tempos para cá passou a ser denominado simplesmente “Bozar” (sem o “Palais” e grafado desse modo). Já é praxe que sempre que vou ao Beaux-Arts encontro alguma exposição, um bom concerto vespertino, um recital - ou os três - que me agradarão e me farão passar deliciosas horas de entretenimento.
Hoje, não foi exceção.

O atual prédio do Bozar de Bruxelles data de finais da década de 1920 e foi concebido pelo arquiteto Victor Horta, um dos gênios da Art Déco, constituindo um dos muitos monumentos do arquiteto espalhados por Bruxelas.
Quando eu passei por lá esta tarde já tinha conhecimento de uma exposição sobre a Valônia (Wallonie) - a região francófona da Bélgica – com o título "Trésors anciens & nouveaux de WallonieCe curieux pays curieux", e decidi que a tarde seria toda para apreciar o que a Valônia tem de bom para nos mostrar. Entretanto, ao chegar ao Bozar, constatei que a exposição sobre a Wallonie estava associada a outra, essa sim, excelente, do pintor suíço Paul Klee.

O curador da exposição de Klee esmerou-se o máximo possível para apresentar as obras que estão sendo exibidas, entre outras razões porque a última individual do pintor aqui na Bélgica aconteceu em 1948, com os admiradores de Klee há muito reclamando dessa ausência.
A última exposição de Paul Klee em que eu havia estado foi, se não me engano, em Viena, em 2002 ou em 2003, mas a cada contato que tenho com a obra do genial pintor, suíço de nascimento, com forte influência dos mestres da Alemanha (país que o acolheu), mais me apaixono por ela. A arte de Klee é enigmática, colorida, moderna, filosofal mesmo.

Como podem ver, Bruxelas é uma constante surpresa e eu não me canso de descobrir as surpresas que ela tem para oferecer.



Para terminar, deixo estas curtas imagens tomadas hoje, à hora do almoço, na Grand-Place de Bruxelas. Apreciem o som da gente que passa e as maravilhosas obras arquitetônicas: