Neste sábado, véspera de um domingo comemorativo, ninguém consegue andar nos centros comerciais de Brasília e, por esse motivo e por preguiça, resolvi ficar todo o dia em casa, meio sem graça e sem disposição para fazer nada, além de dormir, acordar e dormir de novo. No meio da tarde, porém, recebi um telefonema de duas amigas do Recife que iria pôr fim à monotonia do sábado. Durante a alegre (e cheia de vírus gripais) conversa telefônica, uma das minhas amigas, cordelista e pasquinista de carteirinha assinada e com glorioso passado militante, perguntou se eu já havia lido o emblemático folheto, símbolo do cordel pernambucano "O Maquilador Milagreiro".
Naquele momento eu não lembrei de já ter lido o folheto e também não sabia da fama de santo, com direito a operar milagres e tudo, de nenhum maquiador. Prometi às amigas que iria pesquisar sobre o cordel nos meus alfarrábios e, logo que descobrisse alguma referência, daria uma resposta.
Naquele momento eu não lembrei de já ter lido o folheto e também não sabia da fama de santo, com direito a operar milagres e tudo, de nenhum maquiador. Prometi às amigas que iria pesquisar sobre o cordel nos meus alfarrábios e, logo que descobrisse alguma referência, daria uma resposta.
Em seguida, mexi e remexi nas minhas caixas, procurei na montanha de folhetos que tenho na biblioteca e, de repente, deparei com o citado folheto que, por estar novinho com as folhas ainda fechadas, deve ter sido colocado na estante muito recentemente. O título é esse mesmo, "Maquilador" (grafado "Maquiladô) e não "Maquiador", como manda o Aurélio. Por outro lado, o adjetivo "milagreiro" indica não aquele que acredita facilmente em milagres, mas sim a pessoa que opera o feito. Escolhi, então, a melhor poltrona, soltei as folhas presas e me entreguei ao folheto, escrito em um português nada conforme com as regras clássicas, que narra o conto cheio de milagres e mistérios de um milagreiro sertanejo que vem operando feitos extraordinários na região. A seguir, reproduzo os primeiros versos, exatamente com a mesma grafia simplória e incorreta do folheto, de autor desconhecido:
A fila é de se perdê de vista
Com gente rezando e chorando pr'o novo milagreiro,
Pedindo só pr'á sentá na cadeira de doutô,
Oiá aquela máquina que ocês chamam de câmera
E por graça de sei lá quem,
magreza vai virá beleza e veíce será juventude.
Pr'ó povo de Umbuzeiro o milagre é obra séria, fruto de fé e amô,
De um desencarnado bondoso que já foi maquiladô,
Que mijo transforma em água, que depois é congelada sem usá congeladô.
Seja lá o que fô, só sei que é coisa boa, pois tem padre, home e muié
Querendo moiá a cara com água que já foi mijo e que era quente e gelô.
O milagre da juventude tá na água gelada pelo santo maquiladô.
Ao povo do meu sertão, eu que sou cantadô, só tenho pr'á dizê a todos
Que mais do que dom beleza é hábito e obra do milagreiro,
Que já foi maquiladô e teve fé no Sinhô".
"Acreditem, ilustres senhores, que esse fato é verdadeiro
Moça véia vira nova, homem gordo vira magro e osso vira gordura,
Tudo isso acontecendo, sem que ninguém saiba porquê,
Em terras do nosso sertão, lá pr'os lados de Umbuzeiro.Moça véia vira nova, homem gordo vira magro e osso vira gordura,
Tudo isso acontecendo, sem que ninguém saiba porquê,
A fila é de se perdê de vista
Com gente rezando e chorando pr'o novo milagreiro,
Pedindo só pr'á sentá na cadeira de doutô,
Oiá aquela máquina que ocês chamam de câmera
E por graça de sei lá quem,
magreza vai virá beleza e veíce será juventude.
Pr'ó povo de Umbuzeiro o milagre é obra séria, fruto de fé e amô,
De um desencarnado bondoso que já foi maquiladô,
Que mijo transforma em água, que depois é congelada sem usá congeladô.
Seja lá o que fô, só sei que é coisa boa, pois tem padre, home e muié
Querendo moiá a cara com água que já foi mijo e que era quente e gelô.
O milagre da juventude tá na água gelada pelo santo maquiladô.
Ao povo do meu sertão, eu que sou cantadô, só tenho pr'á dizê a todos
Que mais do que dom beleza é hábito e obra do milagreiro,
Que já foi maquiladô e teve fé no Sinhô".
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