sábado, 1 de março de 2008

DOM JOÃO I, REI DO BRASIL - 1ª parte


Não, eu não esqueci de colocar o cinco (V) antes do número um (I) romano, a seguir ao nome de Dom João de Bragança. Foi assim mesmo que eu quis e é assim mesmo que eu pretendo escrever, nesta série de postagens, o nome daquele que foi Chefe de Estado em Portugal (VI) e também no Brasil (I), no início do século XIX.

O Príncipe Regente, Dom João de Bragança, chegou ao Brasil há 200 anos e o “Lugar do Souto” não poderia calar sobre o fato que marcou a nossa identidade, nem esquecer do homem que tomou a decisão de mudar a capital de uma Corte europeia para uma cidade na América do Sul.

A informação mais conhecida é a de que o embarque de milhares de pessoas, no final do ano de 1807, fora algo decidido de última hora, uma atitude irresponsável e inconsequente, motivada pelo pânico de um Príncipe fraco que reinava em nome de sua mãe, doente mental e que a mudança às pressas da capital fora por medo do exército de Napoleão Bonaparte, que já havia ocupado a Espanha, destronado o seu rei e que estava em Portugal com o mesmo objetivo. Por motivos os mais variados, é assim que muitos historiadores descrevem a partida da Corte para o Brasil, sem salientar o fato de que a decisão de partir fora meticulosamente pensada, analisada, discutida, adiada.


Muito já se escreveu sobre os dois ou três dias anteriores ao embarque e sobre o próprio dia em que as naus deixaram o porto de Belém, em Lisboa. Pouco, porém, foi escrito sobre as razões, os planos e a estratégia da partida, uma decisão difícil e única na história de Portugal, na da Europa e na de toda a Cristandade. Transferir para o Novo Mundo uma corte com sete séculos de existência, levando junto a cultura, a arte, os tesouros, a religião, a máquina administrativa e os sonhos de um povo não era uma tarefa fácil e, depois de tomada a decisão, a azáfama do embarque é mais do que justificada pela presença das tropas do General Junot às portas de Lisboa. Não tivesse sido tão rápido o embarque, as tropas francesas teriam interceptado os navios, que apenas ficaram a ver quando chegaram à capital lusitana.



A viagem transatlântica sob guarda britânica, os problemas com os ventos contrários logo à saída - com a subsequente separação das naus -, as tempestades, os piolhos, a passagem pela costa de Pernambuco, a escala para descanso em Salvador da Bahia e a chegada ao Rio de Janeiro a 7 de março de 1808, têm sido objeto, nos últimos duzentos anos, de um sem número de livros e de crônicas específicas, em especial em datas comemorativas como a que agora ocorre. Alguns setores da nossa mídia sempre tiveram uma certa atração em "caricaturar" o momento histórico da chegada da corte e, principalmente, a figura do Príncipe Regente. Nada de mais injusto, pois é a ele que se deve a unidade nacional, a identidade que nos distingue dos países vizinhos e o “salto” cultural e econômico dado entre 1808 e 1821, único na história do Brasil.

Em 2008 e nos próximos anos, o Brasil celebrará os seguintes eventos:

duzentos anos de criação da Imprensa Nacional,

duzentos anos da abertura do nosso comércio internacional (ainda tão incipiente no contexto global),

duzentos anos das Alfândegas do Brasil (hoje, inserida na Secretaria da Receita Federal do Brasil),

duzentos anos da primeira fábrica de pólvora (comentários à parte),

duzentos anos da Biblioteca Nacional,

duzentos anos do Banco do Brasil,

duzentos anos do Museu Histórico Nacional,

duzentos anos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Será preciso enumerar mais?

Quem foi o Chefe de Estado que incentivou e autorizou a criação de todas essas instituições? Dom João de Bragança, Príncipe Regente e, depois da morte da mãe, Rei Dom João do Brasil e de Portugal. O Brasil monárquico teve, além dos Imperadores Dom Pedro I e Dom Pedro II, filho e neto, respectivamente, de Dom João, dois Chefes de Estado com o título de Rei (ou Rainha): Dona Maria I e Dom João I.




Por razões que se justificavam nos anos seguintes à independência, mas que não se justificam quase dois séculos mais tarde, procurou-se apagar da memória coletiva qualquer elo histórico com Portugal. O período do Reino Unido é um desses elos, daí as referências serem sempre a Dom João VI, Rei de Portugal e não a ele como Rei do Brasil. Não se deve, entretanto, esquecer que esse homem que nascera em Portugal tinha o Brasil como sua pátria de coração e o governava sob o título de Rei. O distanciamento atual nos permitie perceber que mais do que um bom Rei para Portugal, ele foi um excelente Rei para o Brasil. Amou tanto o seu reino que não o queria deixar, mas Reis não são (ou não eram) pessoas com vontade própria e o dever de Estado o chamava de volta a Portugal. Dom João I deixava o Brasil e Dom João VI chegava a Portugal.


No decorrer deste ano de 2008 darei uma visão pessoal sobre o personagem histórico e sobre o homem João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos Rafael de Bragança e tentarei discernir as razões pelas quais alguns críticos históricos transmitiram às gerações futuras uma imagem tão grotesca do homem, esquecendo os seu feitos como grande Chefe de Estado no Brasil.

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