O que é que um pintor flamengo do século XVI tem a ver com um teatrólogo norueguês do século XIX? Nada, que eu saiba!
Exceto, talvez, 1) a admiração de Ibsen pela pintura de Brueghel, o Velho, 2) a genialidade de ambos e 3) o fato de que, nos últimos dias, eu estive em contacto com a arte dos dois.
Nesta sexta-feira, 3 de outubro, estou de volta a Bruxelas, depois de dias excelentes na antiga Christiania, hoje Oslo, para a qual me desloquei em serviço. A capital norueguesa surpreendeu-me, pois esperava encontrar uma cidade bem mais pacata do que ela realmente é, mas a impressão que tive foi de uma metrópole como qualquer outra que conheço. Discreta, como convém a uma senhora de 950 anos, Oslo alia a tradição à modernidade e, com uma simples caminhada, é possível cruzar tanto com uma juventude perfeitamente integrada no século em que vivemos, quanto com símbolos tradicionais da cultura nórdica.
A arte deixada por Ibsen está em toda a parte, nas grandes apresentações do Teatro Nacional ou em espetáulos encenados em teatros alternativos, sempre com alguma peça do autor em cartaz. Na noite da quarta-feira passada, fui correndo ao Teatro Nacional assistir a um colóquio (em inglês, não em norueguês) sobre a transcendentalidade da obra de Ibsen e, no final da palestra, um grupo alternativo teatralizou, em mímica, a influência da filosofia na vida e na obra do mestre. Ao sair do teatro, antes de voltar para o hotel, tomei um bom conhaque, para esquentar o corpo do frio que já se fazia sentir. Noite maravilhosa.
Quanto a Brueghel (que também assinava "Bruegel"), sempre me senti atraído pelas suas figurinhas que retratam o quotidiano flamengo do século XVI. No week-end passado, fui ao Museu Nacional de Belas Artes aqui de Bruxelas e depois de percorrer algumas salas, principalmente as que apresentam quadros de Brueghel, fui passear pela Rue Haute, no Maroles, onde ele viveu os seus últimos sete anos. Ao fim da tarde, fui fazer uma oração na igreja de Notre Dame de la Chapelle, onde Brueghel - l'Ancien (Brueghel, o Velho) casou e foi velado, quando de sua morte em 1569. Voltei para o meu flat em paz e cansado da andança.
Esses momentos de lazer e arte, em Oslo e em Bruxelas, fizeram muito bem ao meu espírito sonhador e permitiram esquecer um pouco a rudeza dos dias atuais.
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