Sou de uma tempo em que dar um bigu era uma praxe corriqueira, cotidiana, generalizada, e todos os que podiam davam. Até mesmo num fusca se dava um bigu. Como era salutar e tranquilizadora para a comunidade a prática de dar um bigu!
Calma, calma. Peço aos leitores mais conservadores, principalmente aos que não são do nordeste do Brasil, que não saiam deste blogue, porque o seu conteúdo não é erótico, nem as postagens têm qualquer cunho libidinoso, muito pelo contrário, nada mais correto e conservador do que as minhas lembranças postadas em forma de contos.
Ocorre, porém, que ultimamente tenho coletado na memória antigos termos ou expressões que caíram inteiramente em desuso no falar característico da cidade do Recife, onde nasci e moro atualmente. A primeira expressão que me veio à cabeça foi "dar um bigu". Quando eu era criança, havia o hábito do transporte em comum, solidário, participativo. Quem tinha carro dava bigu a quem não tinha ou a quem, por qualquer razão, preferia deixar o seu na garagem. "Dar um bigu" nada mais é do que "dar uma carona" ou, à lusitana, "dar uma boleia".
Um dia desses, conversando com um grupo de jovens, citei a expressão e, acreditem os que agora me leem, embora todos nascidos na capital pernambucana, nenhum sabia o que ela queria dizer, havendo até quem achasse que era algo de libidinoso. Meu Deus, onde é que estamos? O que se passa com as nossas expressões, com os termos seculares que sempre utilizamos aqui no Nordeste brasileiro e que foram absorvidos pela famosa globalização?
A partir da segunda metade da década de 1960 a televisão brasileira começou a receber influências dos programas produzidos no Rio de Janeiro e em São Paulo, primeiramente, sob a forma de vídeoteipes, em seguida, ao vivo e a cores, impondo a forma de falar do sudeste do país. Nada contra, mas lamento a perda gradativa de nossa identidade coloquial.
Voltando à expressão "dar um bigu", encontrei, em pesquisas na Internet, uma explicação que reproduzo a seguir, mas que duvido da veracidade: "[...Em tempos idos, construíram na cidade um hospital especialmente para soldados americanos que, quando precisavam ir para alguma parte da cidade, ficavam em frente ao hospital pedindo transporte (carona) aos carros que passavam, dizendo "be good, be good" ! Com o tempo, a expressão inglesa foi sendo modificada e se transformou no termo bigu...]". Embora, como disse acima, eu não ache que essa explicação seja verídica, no mínimo, ela é engraçada.
De tudo o que foi exposto, resta a proposta de se voltar à pratica de dar um bigu (ou vários bigus) aos vizinhos, para com isso tentar reduzir o número de veículos que circulam na nossa cidade, com engarrafamentos nunca dantes vistos por aqui. Sejamos solidários no transporte e a qualidade de vida de todos irá melhorar.
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