Um dia desses, aqui mesmo em Brasília, quando eu estava sentado na minha poltrona favorita, meio dormindo, meio acordado, imagens de um tempo distante vieram-me tão vivas à memória que, até agora, não sei se sonhei ou se, de olhos abertos, recordei uma época que me foi cara. Uma lágrima furtiva que, discretamente, tive de enxugar me faz pensar que não foi sonho, mas sim a saudade que, naquela hora crepuscular, bateu no meu coração. Lembrei do tempo em que eu era criança e feliz, mesmo sem saber, porque as criança são felizes não o sabendo que são.
Para mim, àquela época, o mundo e a felicidade estavam resumidos à casa dos meus pais ("minha casa", porque toda criança é egoísta, também sem o saber) e ao Recife ("minha cidade" e a de mais ninguém). As lembranças que assomaram ao meu pensamento conseguiram transportar-me da poltrona em que estava para o ano em que morreu um papa e escolheram outro, este, contrariamente ao predecessor, de rosto largo, olhar curioso, sorriso aberto e que, meio século depois, já ocupa os altares, como Bem-Aventurado.
Fui transportado para o ano em que o Sport ganhou o campeonato pernambucano de futebol, em que Hermeto Pascoal deixou o Recife e foi para o Rio de Janeiro e em que Hermilo Borba Filho fundou o Teatro Popular do Nordeste, o famoso TPN que, anos mais tarde, acolheu tantas paixões e seduções. As minhas lembranças voaram para 1958, ano do nascimento de Gil Vicente, que se tornou pintor e famoso e da inauguração do Aeroporto dos Guararapes, que passou a substituir o passeio que sempre fazíamos, aos domingos, ao cais do porto.
Em 1958 os adolescentes flertavam nos "Encontros de Brotos", tão ansiados por mim (só mais tarde é que os comecei frequentando) e Sônia Maria Campos foi eleita Miss Pernambuco. Nas minhas lembranças, senti na face a mesma brisa morna que nos afagava nas noites passadas no Clube Português, enquanto assistíamos à equipe de hóquei da casa ganhar a quase todos os jogos, graças à destreza nos patins e nos tacos de Eninho, Breno, Bonga e Amílcar, este último, orgulhosamente, meu irmão. Mas o que é que todas essas lembranças do ano de 1958 têm a ver com o título desta postagem?
Quem lembra de Luz Marina? Será, apenas, uma cor de batom?
Não sei se alguém lembra de Luz Marina, mas eu lembro e muito. Lembro tanto que fui transportado para o ano de 1958, quando ela, que hoje é uma sóbria e pacata senhora de 71 anos de idade, foi eleita Miss Universo. Luz Marina Zuluaga foi selo na sua Colômbia natal, foi famosa, linda e, anos mais tarde, foi até mãe de uma misse com pouca sorte no concurso. Hoje, porém, poucos, muito poucos, lembram desse nome, nem mesmo como cor de batom. Poucas, também, são as pessoas que recordam do ano de 1958, mais um no ciclo da vida e na contagem gregoriana. Efêmero tempo, efêmeras pessoas.
Ainda que ninguém mais lembre de Luz Marina, aposto que Adalgisa Colombo ainda lembra, e com uma pitada de mágoa, até hoje. Mas quem foi Adalgisa Colombo? Bom, assim é demais, deixemos a resposta para outra ocasião!
Um comentário:
Minha mãe se chama luz marina por causa dessa miss. legal né??
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