domingo, 13 de janeiro de 2008

"O ENGENHO DE ZÉ LINS" E A SEMANA DE BRASÍLIA

Não vou agora dizer, depois de morar há 22 anos em Brasília (com 66 meses de residência em Bruxelas), que ela é a cidade mais divertida do mundo (nem mesmo, do Brasil), que a atividade sócio-cultural é múltipla e que aqui o tédio mora ao lado e não dentro de casa. Não, não vou dizer. Confesso, porém, que a vida na Capital Federal já é bem melhor do que era no passado. As opções são as mais variadas, os bares continuam em constante e "assustador" crescimento, as discotecas também crescem no mesmo ritmo (eu é que "quase" já não as frequento mais), cinemas, tem em toda parte e de boa qualidade, tanto as salas, quanto as opções de filmes. Só o teatro é que precisa melhorar. Quanto aos restaurantes, sem dúvida de que alguns dos melhores que conheço (no Brasil e na vizinhança) estão aqui em Brasília (os preços são um pouco delirantes vis-à-vis o serviço).

Para confirmar o que digo, nada melhor do que relatar, a seguir, o que fiz nos últimos cinco dias.

Durante a semana, assisti a dois bons filmes, fui, no mesmo dia, a uma exposição razoável no Museu Nacional e ao habitual concerto da sinfônica de Brasília, no Teatro Carlos Santoro. Na sexta-feira, tomei alguns chopes em um bar novo da Asa Norte. No sábado, molhei os pés nas cachoeiras do Parque da Cidade, só para provar que quem é vacinado não precisa ter
pânico do mosquitinho da febre que amarela (e que está amarelando o Ministro da Saúde).

Hoje, depois de ir à Feira da Torre, almocei em um restaurante egípcio barato, bom e de fazer inveja aos melhores de Alexandria.

E mais, nos últimos cinco dias também trabalhei, e muito, li o mesmo que sempre leio e ainda estou com tempo para dizer o que fiz a quem quiser acessar o "Lugar do Souto" (a imaginação deve estar mesmo curta, pois o valor literário do tema é duvidoso).

Um dos filmes a que assisiti foi “Viajem a Darjeeling”, de Wes Anderson, que recomendo a todos e a todas apaixonado(a)s pela década de 1970. Ao filme, de iniciativa própria e sem apoio dos críticos, classifico de um revival pós-moderno. Comédia do século XXI, com tonalidades de finais do anos sessenta ou início da década de 1970. As cores escolhidas para os cenários (naturais), cuidadosamente fotografadas, são exuberantes e os contrastes do interior da Índia são deliciosa, cômica e respeitosamente transmitidos ao espectador. A modernidade dos diálogos, da ação e do próprio filme às vezes confunde os mais idosos, mas, por isso mesmo, é um bom exercício de memória e tônico rejuvenescente. Wes Anderson, mais uma vez, oferece ao seu fiel público a música certa na hora certa. A trama é simples, como o filme é simples. Recomendo.

Quinta-feira passada saí mais cedo do trabalho e fui assistir ao documentário “O Engenho de Zé Lins”, de Vladimir Carvalho, duplamente premiado no Festival de Brasília de 2006. A trajetória da vida do escritor José Lins do Rego, desde a sua Paraíba natal até o último dia no Rio de Janeiro, é traçada com maestria, sentimentalismo, saudade e humor por Vladimir Carvalho. A vida familiar, o drama da infância, os amigos do engenho, são objeto de depoimentos simples e despretensiosos, que se contrapõem aos testemunhos de amigos e colegas literários e acadêmicos, tais como Rachel de Queiroz, Carlos Heitor Cony, Ariano Suassuna (sensacional) e Thiago de Melo. Não me compete julgar os depoimentos, nem assumir posição contra ou a favor sobre cada testemunho, mas a escolha dos depoentes foi perfeita. Destaco a sutileza e o humor do depoimento de Ariano, para mim, um dos melhores momentos do documentário.

Ressalto, ainda, a participação do ator infantil que interpretou José Lins em “O Menino do Engenho (1965)”, de Walter Lima Filho, já com mais de 50 anos. A participação e o depoimento do ex-ator desnudam tristemente o que pode acontecer aos atores infantis, quando não apoiados e acompanhados na ressaca da embriaguez do sucesso. Ao documentário “O Engenho de Zé Lins” eu, além de recomendar, insisto que, quando estiver em cartaz em suas cidades, não deixem passar a oportunidade de o assistir.

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Notícias de “O Correio Braziliense” que fizeram o meu fim de semana bem menos entediante:

Após 17 dias com os portões trancados por suspeitas de foco do vírus da febre amarela, o Parque Nacional de Brasília, mais conhecido como Água Mineral, foi reaberto para a população neste domingo.

Exposição: Moradias transitórias – Novos Espaços da Contemporaneidade
A mobilidade de certos tipos de moradia e o conceito de escape, trabalhado por arquitetos, designers e artistas plásticos em 11 instalações.
Local: Museu Nacional Honestino Guimarães - Complexo Cultural da República - Esplanada dos Ministérios –

Sucesso também na moda - O novo modelo masculino da Gucci (Gucci Boy) é brasileiro. Rômulo Pires é de Brasília, tem 22 anos, 1,87m, ex-mecânico na cidade satélite de Samambáia e foi "descoberto" por um "olheiro" em um dos muitos shoppings de Brasília.

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E mais: Blocos prometem reunir 150 mil pessoas no carnaval do Plano Piloto.
Quem foi que disse que o mosquitinho atrapalha e que Brasília não é divertida?

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