sábado, 31 de dezembro de 2011

ANO VELHO/ANO NOVO, ANO VELHO/ANO NOVO

Mais um dia 31 de dezembro, no Calendário Dionísio/Gregoriano! Repete-se o ciclo da vida, o velho partindo para dar lugar ao novo que chega e, com ele, chegam, também, novos desejos, novas propostas de mudança, nova esperanças.

A necessidade de contar o tempo surgiu durante a época neolítica, quando os primeiros agricultores notaram a importância do exato conhecimento das estações do ano para o sucesso de suas plantações. A partir daí, cada cultura desenvolveu seu próprio sistema de contagem do tempo.  
A mais antiga divisão do tempo, o dia, definida pela alternância cíclica da luz solar e da escuridão da noite já deve ter cerca de 10.000 anos. 


Por seu lado,  o mais antigo calendário solar foi desenvolvido no Egito por volta de 2773 antes da era cristã (a.C.). Esse calendário tinha 365 dias e era ainda usado pelos gregos do Egito Ptolemaico durante o Período Helenístico.


A divisão do mês em 4 semanas de 7 dias, invenção babilônica baseado em conceitos astrológicos e desenvolvida no século VII a.C., foi adotada pelos romanos na época do Império, provavelmente no século I depois de Cristo .


Para computar tempo superior a um ano, as antigas civilizações utilizavam em geral a duração de reinados (Egito), a sucessão de magistrados (Roma Republicana), a enumeração das gerações (Grécia Arcaica), ou então um fato memorável, como por exemplo a fundação de Roma.



Durante o Império Romano, contava-se o tempo conforme a sucessão dos Cônsules e também Ab Vrbe Condita (AVC), isto é, "desde a fundação da cidade de Roma". Mais tarde, a referência passou a ser o ano 284 d.C., data da posse do Imperador romano Diocleciano (240-313 d.C.).


Em 523, o monge católico Dionísio, o Pequeno, decidiu contar o tempo a partir do nascimento de Jesus de Nazaré, o Cristo teológico. Ele calculou que o nascimento de Jesus havia ocorrido em 753 AVC, no dia 25 de dezembro, e fixou o início da nova era no dia 1º de janeiro do ano seguinte, o 754º da fundação de Roma. O novo sistema cronológico não foi aceito de imediato, nem mesmo pela Igreja Católica. Finalmente admitido no século X d.C. pela Cúria Romana, foi gradualmente adotado pelas nações cristãs, assim como o calendário gregoriano. É sabido, atualmente, que Dionísio, o Pequeno, cometeu um pequeno erro de cálculo, pois, na verdade, Jesus nasceu pouco antes de 749 AVC, quatro a oito anos antes da data "oficial". No entanto, por tradição, até hoje o ano 754 AVC continua sendo o Ano 1 da Era Cristã.

Mas para que estou eu discorrendo sobre calendários e enchendo "páginas" deste blogue com informações facilmente encontradas em enciclopédias ou, mais facilmente ainda, na Internet? Ainda bem que, por opção, nada falei sobre o Calendário Maia... 

Talvez, a intenção fosse a de tentar mostrar que depois de cada noite surge um novo dia, seja ele contado neste ou naquele calendário e que o importante mesmo é sermos felizes, a 31 de dezembro ou a 1º de janeiro. Na realidade, a ideia desta postagem foi - e ainda é - a de dizer que ano vai, ano vem, tudo muda e nada muda, só o tempo e, com ele, cada um de nós passa e envelhece (nós, o tempo não) e que hoje, dia 31 de dezembro da era que adotamos, acaba um ciclo e começa outro.

Dito tudo o que acima foi dito, para não fugir à praxe, neste novo ano que já pede para entrar, desejamos todos ser mais felizes  e, enquanto tempo houver, realizar os sonhos ainda não realizados.
 FELIZ ANO NOVO - Feliz 2012, 3012, 4012, 5012

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

RÉQUIEM PARA UM JOVEM MORTO E LOUVOR A UM DEUS NASCITURO



Animula, vagula, blandula
Hospes comesque corporis,
Quae nunc abibis in loca?
Pallidula, rigida, nudula,
Nec, ut soles, dabis jocos?"


Publius Aelius Trajanus Adrianus Augustus

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

EUROPALIA 2011 - BRASIL, PAÍS HOMENAGEADO

Nesta sexta-feira, 25 de outubro, ainda estou em Bruxelas, de onde partirei dentro de poucas horas. Antes, porém, gostaria de comentar sobre a "Europalia 2011", que tem como país homenageado o Brasil.

Primeiramente, explico que "Europalia" é um grande festival internacional de arte e cultura que ocorre, a cada dois anos, na Bélgica, em especial na cidade de Bruxelas, homenagenado um determinado país. Esse evento acontece desde o ano de 1969.

Segundo informações que obtive, o título "Europalia" (em português, deveríamos grafar Europália, com acento) é a combinação de duas palavras, "Europa" e "Opalia", esta última, sendo o nome de um grande festival da antiga Roma, que ocorria à época das colheitas, em honra de "Ops", deusa da terra e da fertilidade. Também consegui saber que o nome dessa divindade está na raiz da palavra "Opus", que significa um "trabalho de arte".

A "Europalia" realiza-se entre os meses de outubro e janeiro, com mostras de arte antiga, arte moderna e arte contemporânea, com exposições de fotografia, de artesanato, de moda, de design, além de concertos, peças de teatro, dança, palestras científicas, de literatura, retrospectivas cinematográficas, folclore, festivais gastronômicos, etc., etc. O país escolhido mostra o que tem de melhor, para que Bruxelas (e algumas outras cidades belgas) possam conhecer e apreciar. Ser homenageado pelo "Europalia" permite a um país projetar-se na capital da Europa e atrair futuros turistas e, consequentemente, divisas.

Como foi dito acima, em 2011 o Brasil foi o país escolhido pelo "Europalia", tendo a sua inauguração contado com a presença da Presidente Dilma Roussef.



Aproveitando cada minuto de folga, no tempo escasso desta minha permanência em Bruxelas, visitei o mais que pude, sendo que a exposição "TERRA BRASILIS", no Espaço Cultural ING, na Place Royale de Bruxelas, foi a que mais me marcou. As obras selecionadas são provenientes tanto de coleções particulares, quanto de museus das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Recife, além de outras, que vieram do Museu do Louvre, em Paris, e de vários museus europeus. Uma maravilha de exposição, que retrata 400 anos de história do Brasil através da arte, incluindo, além da pintura, obras de madeira, de pedras e de metais preciosos. Imperdível.

Para os mais jovens, há espetáculos de música de diversos gêneros, de capoeira e de dança. Enfim, a cidade de Bruxelas, neste outono de 2011, adquiriu um colorido especial trazido pelas cores quentes do Brasil.
 Parabéns Brasil, parabéns "Europalia".

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

BAIRROS ANTIGOS DE BRUXELAS: L'ILOT SACRÉ


Um ano depois da última visita, estou, neste outono de 2011, de volta a Bruxelas. Outono, aliás, atípico quanto à meteorologia, pois os dias estão ensolarados e a temperatura, durante as manhãs, ronda os 9 ºC, o que, para Bruxelas, quase no fim do mês de novembro, é bastante superior àquela que seria normal. Ainda bem!

Ontem, ao passear pelo antigos bairros da zona central da cidade, decidi que iria postar algumas crônicas  (ou arremedo de crônicas) com fotos dos bairros mais antigos desta milenar Bruxelas, começando com o chamado de L'Ilot Sacré, sem dúvida um dos mais visitados pelos turistas, devido, principalmente, aos inúmeros restaurantes que abriga.
A palavra îlot, em francês, corresponde, no vernáculo, a  "ilhota" ou "ilhéu", uma ilha muito pequena e o adjetivo sacré, traduz-se por "sagrado"; por analogia, porém, îlot, pode significar um agrupamento de casas cercado por ruas, como ocorre com este bairro típico do centro de Bruxelas. Na realidade, a Ilot Sacré foi criada recentemente, no final da década de 1950, quando Bruxelas foi submetida a uma série de demolições para modernizar a cidade que se preparava para a Exposição Internacional de 1958. Várias ruas históricas estavam na lista das que seriam atingidas, a rue de Bouchers, a petite rue des Bouchers e a rue des Dominicains, por exemplo, deveriam sofrer várias demolições, para atender ao plano de modernização. Surgiu, então, um movimento dos comerciantes e de alguns moradores da zona que não só conseguiu impedir as demolições previstas, como forçou a criação, no centro histórico de Bruxelas, de algumas "ilhas" intocáveis a futuras ideias modernosas e de mau gosto, pretendo demolir o clássico para dar lugar ao moderno. Surgiu, assim, a Ilot Sacré, uma espécie de bairro restaurado, tombado e protegido em pleno coração da capital da Bélgica.

A atual rue des Bouchers aparece em um documento de 1294 dos arquivos da catedral de Saint-Gudule, com a denominação latina de Vicus Carificum, o que confirma as origens remotas daquela rua e de todo o bairro. Na Idade Média, inúmeras lojas de charcutaria, salsicharia e de miudezas comestíveis já estavam estabelecidas na rue des Bouchers e na petite rue des Bouchers e, até os dias atuais, é lá que os turistas procuram as mais variadas iguarias da gastronomia tradicional de Bruxelas. 


Resolvi aproveitar os meus curtos seis dias em Bruxelas para flanar pela Ilot Sacré, colhendo algumas fotos e guardando na memória o cenário daquele bairro tão típico. Algumas fotos foram feitas muito cedo na manhã de hoje e outras, ao fim da tarde, cerca da 4:30h, antes do horário do almoço e do jantar, respectivamente, razão pela qual as ruas estão vazias e, consequentemente, calmas.


Bruxelas é uma cidade que deveria sempre estar incluída no roteiro de quem vem à Europa, pois, embora não seja uma grande metrópole, tem todas as vantagens de uma cidade como Paris, o charme, os bons restaurantes, uma vida cultural razoável e, em alguns bairros, a tranquilidade de uma cidade de médio porte. Às pessoas que pretendem visitar Bruxelas, sugiro uma noite dedicada à Ilot Sacré, cujas fotos preenchem esta postagem.


O charme do centro histórico da capital da Europa certamente encantará aos novos visitantes.

Neste mapa, pode-se localizar a Ilot Sacré.

 

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

4º ANIVERSÁRIO



Amanhã, dia 16 de setembro de 2011, o "Lugar do Souto" comemora quatro anos de postagens ininterruptas. Uma vitória, para quem nunca acreditou que o blogue chegaria mesmo a completar um ano. Com o passar dos dias, meses e anos, tenho estado menos presente, menos criativo, menos paciente em publicar textos, mas essa ausência não significa que perdi o interesse, o amor pela transcrição dos fatos do meu dia a dia. Nada disso, apenas a minha vida mudou e o tempo é bem menor para sentar e escrever.
Quatro anos se passaram e aqui estou desejando, mais uma vez,  Parabéns, Lugar do Souto e obrigado aos que me honram com sua leitura.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

AH ESSES PORTUGUESES DE DEDO EM RISTE ! VÍDEO DA SÉ DE BRAGA ABORTADO

Sempre gostei de Portugal, entre muitas outras razões, por quase português eu ser. Nasci no Brasil, filho de pais portugueses, mas foi em Portugal que passei boa parte de minha juventude, quando fui estudar na Universidade Clássica de Lisboa, tendo continuado a visitar o país durante toda a minha vida.

Conheci um Portugal de outras épocas, que já não era a época dos cinco réis ou das esferas, mas que era muito diferente do que é hoje, o que, aliás, é natural. Conheci Portugal (e nele vivi) numa época em que o autoritarismo era predominante e onde algumas pessoas sempre estavam de dedo em riste proibindo alguma coisa, controlando alguma atitude. Não sou contra a manutenção da ordem, a existência de permissões e de proibições para que uma sociedade possa viver em paz e tranquilamente, muito pelo contrário, mas sempre me incomodava o fato de algumas pessoas utilizarem o regime de então para reprimir os seus concidadãos. Esse posicionamento não deveria existir mais.
 
Ocorre, porém, que, estando eu em Braga, no norte de Portugal, resolvi fazer um vídeo sobre a Sé, para colocar no You Tube e divulgar  o monumento para quem não o conhece. A minha intenção era a de criar um novo vídeo sobre aquele templo quase milenar e patrimônio da humanidade, mas só consegui apresentar o casario que compõe o pátio e o átrio frontal da igreja. O dedo em riste e a mão espalmada de um guardião lusitano à moda antiga me impediu de continuar.


Reafirmo que entendo e aceito que regras são para serem cumpridas e que, na Sé de Braga, não se pode filmar o interior do templo. Só não entendo porque outros templos portugueses, como a basílica de Fátima, e os de outros países, como a igreja de São Pedro, em Roma, ou a de São Francisco, na Bahia, ícone do barroco brasileiro, podem ser fotografados e filmados, e a Sé de Braga, não pode! De que modo, então, divulgar o patrimônio, que pertence à humanidade, se não existem DVDs e vídeos oficiais para serem vendidos e os turistas não podem filmar? E eu que acreditava que os dedos em riste e as mãos espalmadas, simbolizando repressão, haviam sido há muito abolidos em Portugal! O vídeo abortado está disponível no You Tube, entre os vídeos de vasconcellosl1 (http://www.youtube.com/user/vasconcellosl1), com o mesmo título desta postagem.


Seja como for, não deixem de visitar a Sé de Braga. Sede do Bispado fundado, segundo a tradição, por São Tiago Maior, que lá deixou como primeiro bispo o seu discípulo São Pedro de Rates. Santiago Maior (muito raramente, Santiago, o Grande), também chamado Santiago Filho do Trovão ou Santiago de Compostela (martirizado em 44 da nossa Era), foi um dos doze apóstolos de Jesus Cristo. Muitos são os que crêem que S. Tiago visitou a província romana de Hispânia. Por causa desta origem apostólica, a Sé é considerada Sacrossanta Basílica Pimacial da Península Ibérica e o seu arcebispo, Primaz das Espanhas. Possui uma liturgia própria, a liturgia bracarense. A igreja assenta sobre as bases de um antigo mercado ou templo romano dedicado a Ísis (como atesta uma pedra votiva na parede leste) e sobre muros de uma posterior basílica paleocristã.

A Sé de Braga é considerada como um centro de irradiação episcopal e um dos mais importantes templos do românico português, a sua história melhor documentada remonta à obra do primeiro bispo, D. Pedro de Braga, correspondendo à restauração da Sé episcopal em 1070, de que se conservam poucos vestígios. 

Apesar de tudo, sempre que puder, voltarei à Sé de Braga!

domingo, 12 de junho de 2011

COMUNICADO DA CASA REAL PORTUGUESA



O "Lugar do Souto" não tem por princípio divulgar comunicados e notas ou emitir opiniões que não sejam de exclusiva autoria e responsabilidade do seu autor, proprietário dos direitos do blogue. 
Atendendo a pedido recebido por correio eletrônico, transcreve o comunicado abaixo de autoria do Secretariado da Casa Real Portuguesa, ao qual se atribui inteira responsabilidade. A ilustre e incólume figura de S.A.R. o Senhor Dom Duarte de Bragança, Chefe da Casa Real Portuguesa levou-nos a abrir a exceção:

«Em face de diversas notícias divulgadas em diferentes órgãos de comunicação social , algumas delas atentatórias da dignidade e do bom nome do Senhor Dom Duarte de Bragança, vem o seu Secretariado esclarecer o seguinte:

1- Não existe qualquer sentença de condenação do Senhor Dom Duarte de Bragança ao pagamento de 100.000 €, nem existe qualquer sentença ordenando a penhora de bens da sua propriedade para garantia do pagamento dos referidos 100.000 €.

2- Corre os seus termos no 1º Juízo do Tribunal do Comércio de Lisboa a acção nº 93/07.0TYLSB, na qual, com base no registo de marca nacional nº 366085 e de logotipo nº 5694, é pedido que o Senhor Dom Duarte seja impedido de utilizar símbolos, ou semelhantes, com as insígnias usadas pela associação denominada Ordem de São Miguel da Ala

3- Tal pretensão foi contestada pelo Senhor Dom Duarte e a acção em causa aguarda, desde 2009, que seja proferido despacho saneador. Assim, a referida acção ainda não teve julgamento nem foi proferida qualquer sentença a esse respeito.

4- Por apenso a esta mesma acção foi instaurado um procedimento cautelar no qual foi proferida uma decisão – necessariamente provisória e meramente destinada a garantir o efeito útil de qualquer sentença que vier a ser proferida no processo principal - ordenando aos requeridos que se abstivessem de utilizar sinais idênticos ou confundíveis com aquelas marca e logotipo e estipulando, para a hipótese de atraso no cumprimento da decisão, uma sanção pecuniária compulsória de 200,00 € diários.

5- Posteriormente a esta decisão, datada de 23 de Outubro de 2009, não foi proferida qualquer outra decisão judicial sobre o assunto.

6- Enquanto aguarda serenamente a sentença a ser proferida no processo principal, o Senhor Dom Duarte de Bragança respeitou a decisão proferida no procedimento cautelar, abstendo-se imediatamente da utilização dos sinais distintivos em questão.

 8- Todas as outras questões relacionadas com a divulgação e o conteúdo das notícias em causa serão, a seu tempo, encaminhadas para sede própria.»



 Secretariado da Casa Real              www.casarealportuguesa.org

sexta-feira, 27 de maio de 2011

NA ÉPOCA EM QUE SE DAVA UM BIGU AOS VIZINHOS

Sou de uma tempo em que dar um bigu era uma praxe corriqueira, cotidiana, generalizada, e todos os que podiam davam. Até mesmo num fusca se dava um bigu. Como era salutar e tranquilizadora para a comunidade a prática de dar um bigu!

Calma, calma. Peço aos leitores mais conservadores, principalmente aos que não são do nordeste do Brasil, que não saiam deste blogue, porque o seu conteúdo não é erótico, nem as postagens têm qualquer cunho libidinoso, muito pelo contrário, nada mais correto e conservador do que as minhas lembranças postadas em forma de contos.

Ocorre, porém, que ultimamente tenho coletado na memória antigos termos ou expressões que caíram inteiramente em desuso no falar característico da cidade do Recife, onde nasci e moro atualmente. A primeira expressão que me veio à cabeça foi "dar um bigu". Quando eu era criança, havia o hábito do transporte em comum, solidário, participativo. Quem tinha carro dava bigu a quem não tinha ou a quem, por qualquer razão, preferia deixar o seu na garagem. "Dar um bigu" nada mais é do que "dar uma carona" ou, à lusitana, "dar uma boleia".

Um dia desses, conversando com um grupo de jovens, citei a expressão e, acreditem os que agora me leem, embora todos nascidos na capital pernambucana, nenhum sabia o que ela queria dizer, havendo até quem achasse que era algo de libidinoso. Meu Deus, onde é que estamos? O que se passa com as nossas expressões, com os termos seculares que sempre utilizamos aqui no Nordeste brasileiro e que foram absorvidos pela famosa globalização?

A partir da segunda metade da década de 1960 a televisão brasileira começou a receber influências dos programas produzidos no Rio de Janeiro e em São Paulo, primeiramente, sob a forma de vídeoteipes, em seguida, ao vivo e a cores, impondo a forma de falar do sudeste do país. Nada contra, mas lamento a perda gradativa de nossa identidade coloquial.

Voltando à expressão "dar um bigu", encontrei, em pesquisas na Internet, uma explicação que reproduzo a seguir, mas que duvido da veracidade: "[...Em tempos idos, construíram na cidade um hospital especialmente para soldados americanos que, quando precisavam ir para alguma parte da cidade, ficavam em frente ao hospital pedindo transporte (carona) aos carros que passavam, dizendo "be good, be good" ! Com o tempo, a expressão inglesa foi sendo modificada e se transformou no termo bigu...]". Embora, como disse acima, eu não ache que essa explicação seja verídica, no mínimo, ela é engraçada.

De tudo o que foi exposto, resta a proposta de se voltar à pratica de dar um bigu (ou vários bigus) aos vizinhos, para com isso tentar reduzir o número de veículos que circulam na nossa cidade, com engarrafamentos nunca dantes vistos por aqui. Sejamos solidários no transporte e a qualidade de vida de todos irá melhorar.


segunda-feira, 16 de maio de 2011

S.A.I.R. DONA MARIA ELIZABETH DA BAVIERA DE ORLEANS E BRAGANÇA

Estivesse o Brasil ainda sob o regime monárquico e o fim de semana ora findo teria sido de luto nacional, pelo falecimento, no passado dia 13, de Dona Maria Elizabeth da Baviera de Orleans e Bragança.

Filha do Príncipe Francisco da Baviera e da Princesa Elizabeth de Croÿ, Dona Maria nasceu em Munique a 9 de setembro de 1914, recebendo o nome de batismo de Maria Isabel Francisca Teresa Josefa de Wittelsbach e Croy-Solre. Em 19 de agosto de 1937 desposou o Senhor Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, neto da Princesa Isabel, a Redentora, a quem sucedeu na chefia da Casa Imperial do Brasil. Pelo casamento, a princesa passou a ser, de jure, Imperatriz-Consorte do Brasil. Em 1945, a Augusta Senhora Dona Maria, em companhia de Dom Pedro Henrique e dos filhos até então nascidos, mudaram-se da Europa para o Brasil, onde fixaram residência permanente.


Exemplo de virtude cristã, S.A.I.R. Dona Maria da Baviera, como era mais conhecida, dedicou sua vida à educação dos filhos, a obras de caridade e, como lazer, à pintura em cerâmica. Após o falecimento de Dom Pedro Henrique, de jure Dom Pedro III do Brasil, Dona Maria passou a ser denominada Imperatriz Mãe do Brasil, devido ao fato de o seu filho primogênito, Dom Luiz, ter assumido a chefia da Casa Imperial. 

Nos últimos tempos, a Imperatriz Mãe vivia na cidade do Rio de Janeiro, onde entregou  o espírito ao Senhor na última sexta-feira, 13 de maio, dia de Nossa Senhora de Fátima e da abolição da escravatura no Brasil.

O Lugar do Souto transmite os seus respeitosos e sentidos pêsames ao Augusto Senhor Dom Luiz e à toda a Ilustre Família enlutada.
Requiescat in Pace.

sábado, 2 de abril de 2011

RECIFE DE ONTEM, DE HOJE E DE SEMPRE


Se foi a saudade que me trouxe pelo braço, não sei, mas acho que sim, não vejo outro motivo para este regresso depois de um quarto de século ausente. Voltei para casa, isto é o que conta. Voltei para um Recife que já não é o da minha infância, nem o da minha adolescência, nem a cidade na qual eu vivi há algumas décadas, mas que, mesmo assim,  ainda posso chamar de meu Recife.

Gosto de acordar cedo no Recife, àquela hora em que os sabiás, rolinhas, bem-te-vis e tantos outros cantam anunciando a aurora, e sair passeando (sem nada nos bolsos ou nas mãos) pelas ruas do bairro onde nasci, numa rua onde o bairro das Graças se une ao dos Aflitos. Só mesmo no Recife existem bairros com nomes tão bizarros - não bastassem os nomes das ruas, de que já escrevi, há bastante tempo! 

Saio, sentindo no rosto a morna brisa matutina tão típica daqui. Caminho, caminho e caminho, sem rumo ou razão para caminhar, querendo, apenas, ver os casarões gastos pelo tempo e sentir o cheiro de terra úmida - da terra da minha terra.
                                                             
Ando a esmo, buscando um passado que não pode (nem deve) existir mais e me deparo em frente à capelinha dos Aflitos, onde fui a tantas missas com a minha família.
Continuo a caminhada e chego até o Clube Náutico, o meu time de coração, que lá continua vermelho e branco e imponente, apesar de tantos reveses. Faço o caminho de volta pela rua do Futuro, atravessando a rua Amélia e passando pela Rua João Ramos para chegar, finalmente, à Rua das Graças.
Dirijo-me, então, à Igreja de mesmo nome e onde fiz a minha Primeira Comunhão. Nada mudou, tudo mudou, eu mudei. Saio da Igreja das Graças e volto para casa devagarzinho, seguindo a toada dos pássaros matutinos.


Chego, então, à rua onde iniciei o meu caminho e procuro a minha casa, mas não a encontro. Como não a encontro se o número ainda está no muro? Mas o muro é outro, a casa lá dentro é outra, a rua parece ser outra. Só então me dou conta de que toda a caminhada não foi real, foi apenas um desejo, uma saudade enorme de um Recife que não existe mais, ao menos como era dantes.

Cadê o meu Recife de antigamente, onde andar a pé nas ruas era um prazer descuidado, onde as árvores tinham os troncos pintados pelos moradores, onde o sol tropical era menos forte, onde eu era jovem? Será que ele não existe mais? Penso e concluo que ele existe sim e está guardadinho bem dentro da minha memória, no fundo do meu coração. Mudou a paisagem, mudaram as pessoas, mudei eu, mas o meu Recife continua existindo, bonito, altaneiro, alegre e diferente do que um dia ele foi. Por isso e por muito mais estou feliz. Feliz por ter voltado à terra onde um dia nasci, ao meu Recife de ontem, de hoje e de amanhã, ao meu amado Recife de sempre.