domingo, 21 de outubro de 2007

BRUSSEL/BRUXELLES OU MESMO BRUXELAS



Que saudade de minha casa em Bruxelas!




Brussel*, flamenga desde um tempo perdido na memória, transformou-se, nos idos de 1830, na Bruxelles afrancesada de hoje, mas o seu nome em francês é ainda pronunciado pelos nativos com um singular acento flamengo, como que para não esquecer as suas origens.

Como eu gosto de Bruxelas!

Gosto de sair cedo em uma manhã ensolarada de inverno – que são mais frequentes do que se pode imaginar - e caminhar pelas alamedas e parques, despidos de folhas, mas não de encanto! Gosto de meditar na Abbaye de la Cambre, gosto dos lagos de Ixelles, gelados ou não, dos bistrôs cheirando a café e cigarro – estranho prazer para um não fumante. Gosto dos brocantes (fórmula belga de fazer dinheiro), onde se vende tudo o que está sobrando em casa, desde talheres tortos a bibelôs decôs, de revistas rasgadas a inesperadas obras de arte, estas, a cada dia mais difíceis de serem encontradas! Ah, como eu gosto das manhãs de domingo no Marolles! Comer escargôs, tomar uma cerveja branca com limão e esperar que a tarde chegue, trazendo os retardatários no acordar, mas não no poder de sedução, nem no de tantas outras coisas!

Brussel de Bruegel, o velho e o moço, Brussel de Charles Quint, de Horta, de Jacques Brel a Adamo, de Tintin e, ... por que não...? Bruxelas de Reinaldo. Bruxelas antiga, Bruxelas clássica, Bruxelas decorativa, Bruxelas sacra, Bruxelas artística, Bruxelas profana ... Brussel flamenga ou Bruxelles francesa, gosto de ambas, gosto de todas.

Que vontade de fechar os olhos e sonhar que estou saindo do Marolles pela Rue Blaes e que chego ao Grand Sablon, onde saboreio um croissant no "Le Pain Cotidien", continuo subindo, sento em um banco do Petit Sablon e... acordo... com o vento gelado me enrijescendo as bochechas! Acordar em Bruxelas é a continuação do sonho bom. Queria, então, descer para a Grand-Place, misturar-me aos turistas e gritar, gritar muito alto “Eu te amo, Bruxelles**, eu te amo”!

Bruxelas já não é a mesma que eu amava no passado, eu sei. Não tem Reinaldo, não tem tantos outros amigos, não tem minha casa, não tem até o mesmo cheiro das manhãs de inverno. Ou serei eu que já não tenho os mesmos olhos, as mesmas companhias, os mesmos cúmplices, o mesmo olfato para sentir a cidade? Sou eu, sem dúvida, porque mesmo sem tantas pessoas e tantas coisas que foram e que ainda me são tão caras, mesmo sem elas, repito, em Bruxelas, eu estou sempre em casa e em casa, eu estou sempre feliz!
Bruxelas não é a única, mas, sem dúvida, é uma das minhas casas.

Volta, Bruxelles, volta aos meus sonhos de sempre...
______________________________________
* Atenção, "Brussel" em neerlandês e não "Brussels", em inglês
** É "Bruxelles" que eu chamo e não "Bruxelas", quando sonho que converso com ela.

Nenhum comentário: