domingo, 14 de outubro de 2007

OUTRO EXCERTO DE "O VOO SOLITÁRIO DAS SAUDADES DE UM REI"

Em dada altura do Capítulo 2, o autor da biografia romanceada de Dom Manuel II (ainda em elaboração)** contrapõe o personagem título ao momento do seu próprio nascimento - ao qual assistia como espectador não interveniente -, em um delírio imaginário que teria precedido aos seus últimos instantes de vida e o feito "voar" do nascimento à morte.

No trecho a seguir, em conformidade com a linha mestre do livro, o presente (1932) e o passado (1889) confundem-se na descrição e no pensamento de Dom Manuel de Bragança.

Era o dia 15 de novembro de 1889 e a mais sombria das cores, o preto, predominava, em ato premonitório, no quarto onde à luz era dada uma criança:


"Se pouca dúvida tinha, doravante nenhuma mais tenho… Sou eu aquela criança que acaba de nascer. Vejo-me recém-nascido… Abro os olhos pela primeira vez… Mulheres de preto, vestes negras em todo o quarto. Não percebo porque todo este negro. Um bom sucesso é ou não uma ocasião de grande regozijo? Por que ou por quem, então, será o luto ? Ah, é claro, já me lembro, a corte cumpre nojo pesado, quer pela morte do Infante Dom Augusto, falecido a 26 de setembro, quer pela do seu irmão, o Rei Dom Luís, meu avô, ocorrida há menos de um mês* e, além disso, o preto — luto ou não — foi, é e também no futuro devê-lo-á ser, a cor favorita das mulheres do meu país.
*D. Luís I faleceu às 11 h 05 do dia 19 de outubro de 1889, tendo as solenes exéquias sido realizadas a 26 de outubro do mesmo ano."

**A biografia romanceada do último rei, "de jure et de facto", de Portugal está escrita na forma lusitana da língua portuguesa, e de outro modo não poderia ser, já que se pretende dar à "biografia" um cunho mais próximo possível daquele em que o próprio a teria escrito.



Foto, em tom sépia pelo tempo, de Dom Manuel II ainda criança, com o irmão tão querido, o Príncipe Real, Dom Luís Filipe.

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