No Recife, em tempos remotos, as casas comerciais que atualmente (e há já bastante tempo, aliás) são conhecidas como "lanchonetes", eram chamadas de casas de chá, casas de lanche ou, simplesmente, pastelarias, neste último caso, só quando fabricavam os produtos que vendiam.
Na infância, nada me dava maior prazer do que ir ao centro do Recife com mamãe, minha irmã e, quando ainda era criança pequena, com a babá que nos acompanhava para me levar ao colo. Uma manhã, em que minha irmã não foi conosco, uma “tragédia” aconteceu. Por alguma razão que desconheço, não fomos no carro do meu pai, mas sim, de ônibus. Lembro de que naquele tempo os ônibus circulavam pela rua Nova no sentido subúrbio-centro e, em dada altura, já na rua Nova, a babá foi empurrada e saiu do ônibus, me arrastando com ela, enquanto que a mamãe continuou lá dentro, creio eu que até à pracinha do Diário.
A partir daí, a imagem que até hoje guardo é a do desespero da babá - que chorava mais do que eu, sem saber nem onde estava nem para onde deveria ir. Havia muita gente estranha à nossa volta e empurra-empurra para ver o que se passava. Naquele momento, eu devo ter tomado consciência de que estava perdido, pois ainda recordo a terrível sensação de perda daquilo que, até então, eu julgava impossível perder, a segurança. Devem ter sido minutos tão assustadores para mim que consigo hoje visualizar tudo, embora tivesse dois ou três anos de idade. Sem dúvida que esse fato aconteceu no ano de 1950, porque conta a tradição oral que a bela goiana Jussara Marques, Miss Brasil 1949, estava em visita ao Recife naquele exato dia e que, em companhia da Miss Pernambuco, também de 1949, Maria Auxiliadora Manguinho, visitava uma loja, na rua Nova, representante dos produtos de Helen Rubinstein, daí haver tanta gente na cidade àquela hora da manhã.
Algumas almas caridosas levaram-nos para a loja Quatro e Duzentos, na esquina da matriz de Santo Antônio. É isso mesmo, loja 4.200 e não 4.400, cujo prédio desabou anos mais tarde e se situava a meio da rua e não em uma esquina, como a que nos acolheu. Reza a lenda que foram as Misses Brasil e Pernambuco as “almas caridosas” que nos levaram para a loja na tentativa de acalmar o meu desespero, fato que, a ser verdadeiro, foi o primeiro dos meus muitos encontros com as futuras Misses Pernambuco, Brasil e Universo.
Na realidade, foi o desespero da babá que me deixou inseguro. Ah se ela soubesse as consequências daquele dia na minha personalidade futura!
Meia hora mais tarde, no máximo, o que para mim foi uma eternidade, chegou minha mãe em estado pior do que o nosso. Os transeuntes a haviam informado de dois "perdidos" que estavam recolhidos na loja Quatro e Duzentos e ela correu para lá. A "tragédia" terminou com sanduíche de queijo em pão de fôrma sem casca e um "Fratelli" (pernambucano da gema), lá mesmo na Quatro e Duzentos.
Nas idas ao centro do Recife, os lanches eram a melhor parte para mim e, segundo relatos, mal chegava à cidade, eu já perguntava, “A que horas é que vamos lanchar?”.
Uma das minhas maiores excitações era subir a escada rolante da loja Viana Leal e ir lanchar no segundo andar, e nem sei do que eu gostava mais, se da escada rolante, se do lanche.
O salão de chá da Casa Matos não era o meu favorito, porque a espera por uma mesa era longa demais e, mesmo depois de sentados, as senhoras que atendiam não estavam para grande pressa. A única compensação era a de que, devido à demora, o lanche se tornava bem mais saboroso, apesar de ser o mesmo de sempre, sanduíche de queijo (muito raramente, misto com fiambre) em pão de fôrma sem casca e "guaraná Fratelli" (mais tarde, substituído por um "caçula da Antarctica").
Às vezes, o lanche era na Sertã, ao lado do cinema Trianon, mas a mamãe não gostava nem dos lanches nem do ambiente de lá e preferia comer em pé na pequeníssima Casa dos Frios, em frente ao Art Palácio.
Quando era preciso atravessar a ponte da Boa Vista para ir à "Casa do Plissê" ou à "Singer" para continuar as compras na rua da Imperatriz, duas eram as opções, para lanchar, ou se tomava um sorvete na sorveteria Gemba, o que acontecia muito raramente porque eu sempre ficava doente da garganta, ou se ia para a Confeitaria Confiança.
Sinto até hoje o cheiro de bolo xadrez e biscoito quente, que deliciava a todos que se aproximavam da confeitaria. Igualmente na rua da Imperatriz, mas do lado contrário à Confiança, havia uma loja de tecidos com uma pequena e acolhedora casa de lanches ao fundo. Não recordo de mais nada, nem da loja nem do seu local exato, só sei que fui lá algumas vezes.
Na infância, nada me dava maior prazer do que ir ao centro do Recife com mamãe, minha irmã e, quando ainda era criança pequena, com a babá que nos acompanhava para me levar ao colo. Uma manhã, em que minha irmã não foi conosco, uma “tragédia” aconteceu. Por alguma razão que desconheço, não fomos no carro do meu pai, mas sim, de ônibus. Lembro de que naquele tempo os ônibus circulavam pela rua Nova no sentido subúrbio-centro e, em dada altura, já na rua Nova, a babá foi empurrada e saiu do ônibus, me arrastando com ela, enquanto que a mamãe continuou lá dentro, creio eu que até à pracinha do Diário.
A partir daí, a imagem que até hoje guardo é a do desespero da babá - que chorava mais do que eu, sem saber nem onde estava nem para onde deveria ir. Havia muita gente estranha à nossa volta e empurra-empurra para ver o que se passava. Naquele momento, eu devo ter tomado consciência de que estava perdido, pois ainda recordo a terrível sensação de perda daquilo que, até então, eu julgava impossível perder, a segurança. Devem ter sido minutos tão assustadores para mim que consigo hoje visualizar tudo, embora tivesse dois ou três anos de idade. Sem dúvida que esse fato aconteceu no ano de 1950, porque conta a tradição oral que a bela goiana Jussara Marques, Miss Brasil 1949, estava em visita ao Recife naquele exato dia e que, em companhia da Miss Pernambuco, também de 1949, Maria Auxiliadora Manguinho, visitava uma loja, na rua Nova, representante dos produtos de Helen Rubinstein, daí haver tanta gente na cidade àquela hora da manhã.
Algumas almas caridosas levaram-nos para a loja Quatro e Duzentos, na esquina da matriz de Santo Antônio. É isso mesmo, loja 4.200 e não 4.400, cujo prédio desabou anos mais tarde e se situava a meio da rua e não em uma esquina, como a que nos acolheu. Reza a lenda que foram as Misses Brasil e Pernambuco as “almas caridosas” que nos levaram para a loja na tentativa de acalmar o meu desespero, fato que, a ser verdadeiro, foi o primeiro dos meus muitos encontros com as futuras Misses Pernambuco, Brasil e Universo.
Na realidade, foi o desespero da babá que me deixou inseguro. Ah se ela soubesse as consequências daquele dia na minha personalidade futura!
Meia hora mais tarde, no máximo, o que para mim foi uma eternidade, chegou minha mãe em estado pior do que o nosso. Os transeuntes a haviam informado de dois "perdidos" que estavam recolhidos na loja Quatro e Duzentos e ela correu para lá. A "tragédia" terminou com sanduíche de queijo em pão de fôrma sem casca e um "Fratelli" (pernambucano da gema), lá mesmo na Quatro e Duzentos.
Nas idas ao centro do Recife, os lanches eram a melhor parte para mim e, segundo relatos, mal chegava à cidade, eu já perguntava, “A que horas é que vamos lanchar?”.
Uma das minhas maiores excitações era subir a escada rolante da loja Viana Leal e ir lanchar no segundo andar, e nem sei do que eu gostava mais, se da escada rolante, se do lanche.
O salão de chá da Casa Matos não era o meu favorito, porque a espera por uma mesa era longa demais e, mesmo depois de sentados, as senhoras que atendiam não estavam para grande pressa. A única compensação era a de que, devido à demora, o lanche se tornava bem mais saboroso, apesar de ser o mesmo de sempre, sanduíche de queijo (muito raramente, misto com fiambre) em pão de fôrma sem casca e "guaraná Fratelli" (mais tarde, substituído por um "caçula da Antarctica").
Às vezes, o lanche era na Sertã, ao lado do cinema Trianon, mas a mamãe não gostava nem dos lanches nem do ambiente de lá e preferia comer em pé na pequeníssima Casa dos Frios, em frente ao Art Palácio.
Quando era preciso atravessar a ponte da Boa Vista para ir à "Casa do Plissê" ou à "Singer" para continuar as compras na rua da Imperatriz, duas eram as opções, para lanchar, ou se tomava um sorvete na sorveteria Gemba, o que acontecia muito raramente porque eu sempre ficava doente da garganta, ou se ia para a Confeitaria Confiança.
Sinto até hoje o cheiro de bolo xadrez e biscoito quente, que deliciava a todos que se aproximavam da confeitaria. Igualmente na rua da Imperatriz, mas do lado contrário à Confiança, havia uma loja de tecidos com uma pequena e acolhedora casa de lanches ao fundo. Não recordo de mais nada, nem da loja nem do seu local exato, só sei que fui lá algumas vezes.
Mais tarde, em meados da década de 1960, o lanche mudou de endereço e de cardápio e eu, já adolescente, mudei de companhia. Ainda lanchava, às vezes, na Casa Matos, mas o meu maior prazer era ir com os colegas de colégio lanchar na pastelaria Arcádia e “fazer ponto” em frente à mesma. Na realidade, eu gostava bem mais de “fazer ponto” do que de lanchar os famosos jesuítas da Arcádia. Atenção aos conhecedores! O meu "ponto" era feito à porta da pastelaria, e não do outro lado, porque eu não tinha coragem de atravessar a rua e sentar no, hoje tombado, “Quem me quer”!
E os fins de tarde na casa de lanches Estoril ? Como eu achava sofisticado aquele piano, acompanhado pelos periquitos e pela vozearia da juventude bonita de então. Na Estoril, esqueci, a contra-gosto, o sanduíche da infância e passei a pedir um hot dog com uma vaca preta ou um sundae de chocolate e não o clássico, de morango.
Será que ainda há casas de lanche, salões de chá, ou mesmo pastelarias, na rua Nova, na da Imperatriz, ou em qualquer outra daquela área, ou só há lanchonetes?
Será que existe alguma diferença entre aquelas do meu passado e estas do tempo presente? Será que a diferença está apenas nos meus olhos, no meu sentir, no meu não saber conviver com as mudanças? Será?
Um comentário:
A Infância viva! Voltei no tempo, quando criança caminhava com minha avó e mãe, era uma felicidade ir à estes lugares, ainda pouco lembrei do Gemba, o sorvete(gelado) de cajá ainda vive em mim. Da confeitaria Confiança já tentei de todas as formas conseguir a receita de um bolo xadres que era divino! Feito um rocombole, com pedaços de chocolates e ameixa......hum saudade. Atualmente moro em Portugal, e fico triste com dias atras estive no Recife e está tudo destruído em nome de espigões...a cidade está ficando sem memória. Parabéns pelo Blog.
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